Revista da Academia Paraense de Letras 1968

16 D. ALBERTO RAMOS Os faróis estão acesos;; a costa tôda iluminada!" E mais adiante : "Quanto a mim, apesar de minhas cadeias, sinto-me feliz de viver, de viver para lutar e sofrer, de viver para um testemunho de fidelidade com que devemos servir à pátria da terra e à pátria do Céu. Condenem-se os homens como um facínora e um rebelde. Quando, com mão trêmula, êles tiverem lavrado e assinado mi– nha sentença, firme na minha consciência, certo de ter feito o meu dever, olharei tranquilo para o céu e direi: "Apelo para a justiça de Deus!" • * • Ignoramos os motivos por que o primeiro ocupante da cadeira n.º 12, JOSÉ EUSTÁQUIO DE AZEVEDO, escolheu precisamente o nome de Dom ANTôNIO DE MACEDO COSTA, uma vez que mui di– versas eram as suas crenças religiosas. Georgenor Franco, o pesquisa– dor dos arquivos da Academia, não nos revela, se, algum dia, Eustá· quio chegou a escrever a análise da obra literária do patrono de sua cátedra. Em "Horas Fôrras", estudo agnóstico que inseriu no seu livro "Vindimas?', Eustáquio assim se refere: "Um espírito ingénuo ouve, por exemplo, o verbo poderoso de um orador sacro, de um bispo como Dom Antônio de Macedo Cosla, de um principe da palavra como o padre Júlio Maria, e fica conven– cido que êles pregam a verdade. Mas, êsse mesmo espírito ingênuo escuta a refutação formidável de suas palavras numa conferência, por exemplo de um Teixeira Mendes, num livro de Augusto Comte e o seu eu vacila perturbando; a dúvida de Hamlet fá-lo interrogar estonteado : - Deus existe? Deus não existe? ("Vindimas", p. 156). Justifica-se tal perplexidade, até certo ponto, pela influência que sôbre êle exerceu o mestre ateu, como confessa mais adiante : "O meu professor de filosofia, o dr. Argymiro Galvão, dizia-me mui– tas vêzes citando Helmjotz em suas apostilas. Que plano harmonioso pode haver nos olhos da toupeira, olhos que ela não abre; nos den– tes rudimentares de embrião da . baleia, de que nunca se servirá?" E prossegue na ridícula enumeração dêsses argumentos que lhe fo– ram incutidos pelo referido professor, e que qualquer estudioso de apologética saberia desmoronar em poucos instantes : "Deus criou o mundo, dizem os teóolgos, mas como ? O que havia antes do mun– do ? O nada ? Que é o nada ? "Tudo o que existe é alguma cousa; se o nada existe é alguma cousa; então deixa de ser nada!" (op. cit-p. 157).

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