Revista da Academia Paraense de Letras 1968

A ORAÇÃO DE D. ALBERTO RAMOS . 15 Em seus escritos percebe-se a primorosa cultura clássica que refletia sempre, tanto na oratória como nas dissertações e requinte da frase e a precisão do vocábulo. Quando se reveste de tonalidades mais vivas, êle próprio as justüica, como no prefácio de O DIREITO CONTRA O DIREITO. "O estilo será por vêzes animado, a frase comovida. Por fôrça que há de ser assim. Não se pode tratar questões incandescentes, como esta, com a placidez de um matemático que resolve um frio problema d'algebra. Trata-se de vingar nossa honra, nosso caráter, como homens, como cidadãos, como Bispos, de acusações tão graves, como injus– tas : trata-se sobretudo de defender a Igreja, de salvar o Brasil ! Não nos podeis proibir que ressôe tudo o que temos de fibras vivas em nosso ser, quando se trata de objetos como êstes; e se nos vindes falar de mansidão evangélica, nós vos responderemos que o Evangelho não nos veda ter sangue nas veias." . .. .. .. ............ . . . . . . ."Espero em Deus que não hei de transpor os limites de uma indignação contida e digna; e que o mesmo ardor que puser na de– fesa da verdade será prova do muito amor que lhe tenho, e às almas que para ela foram criadas". "Se porventura, porém, alguma frase destoar meu propósito, desde já a quero delida e retratada". Não se resumia a questão a mero combate a uma sociedade secreta. Tôda se caracterizava na defesa dos direitos da Igreja, como êle próprio afirmava, nas frases finais do mesmo livro, palavras que se coadunariam perfeitamente com o Decreto sôbre a Liberdade Re– ligiosa do recente Concílio Ecumênico Vaticano IL "A solução da Questão Religiosa se resume numa só palavra: Liberdade ! Daí liberdade à Igreja de Jesus Cristo ! Ela não vos invade, ela não vos violenta; deixa-vos seguir o vosso regalismo, ou quaisquer doutrinas ou seitas que queirais abra• çar. Deixai-a também livre de regular-se conforme suas leis. O' bem aventuradas cadeias, que darão de si a liberdade da Igreja do Brasil ! Bem aventuradas opressões e injustiças que estão despertando em tantas almas o fervor, que andava tão amortecido. das verdadeiras crenças católicas ! o que parece um pôr de sol, é uma aurora ! A cruz nua do Calvário está anunciando uma ressurreição ! Esta crise dolorosa que a muitos se afigura mortal, é a passagem para a vida ! A luz irá seu caminho para o futuro, para um futuro esplêndido e glorioso, apesar das trevas e desfalecimentos do presente Ruja a tormenta embora; cerre-se a noite sôbre êste triste mundo, que parece querer voltar para o paganismo.

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