Revista da Academia Paraense de Letras 1968
A CRISE DA BORRACHA 127 Na realidade, porém, estão olhando pelo prisma de interêsses subalternos. Inflação não se elimina com o sacrifício de uma região. Ao contrário. Para reduzir e, mesmo, para ·eliminar ~ processo inflacionário, a industrialização da Amazônia é providência capital. Certo que a majoração de- 40% no· prêço da borracha constitui mero paliativo. Necessário se torna que o govêrno fomente, cm alto _gr;:iu, o cultivo intensivo da seringueira, e propicie ajuda significativa à agricultura, à pecuária e às indústrias nascentes na Planície, inclu– sive a de artefatos de borracha. Estamos, mesmo, convencido/, da alta conveniência da volta à política de monopólio de importação da borracha pelo Banco da Amazônia, revertendo-se o lucro na modernização do cultivo da se– ringueira. Tudo isto, não obstante, só será possível fazer com infraestru• tura. Sem energia, sem estradas, sem comunicações, sem saneamen– to e sem mão de obra qualificada, não há como desenvolver a gleba e, consequentemente, não há como deter o processo inflacionário bra– sileiro que, segundo declararam recentemente os técnicos do BID, decorre da marginalização de grandes áreas e populações ao processo econômico. Agora mesmo estamos sabendo das dificuldades sem conta criadas ao incremento da agro-pecuária na região. Quem possuir mais de quinze mil hectares de terras sera obrigado a construir um frigo– rífico industrial integrado. A exigência parecer-nos-ia válida se a ela se acrescentasse uma ação imediata do govêrno no sentido de fornecer, aos agro-pecuaris– tas, a energia, os transportes e a técnica indispensáveis. Será êste um desafio que os produtores deverão fazer ao govêr– no: Dê-nos infraestrutura e promoveremos o desenvolvimento. O mesmo ocorre na indústria extrativa. Não se poderá exigir borracha a prêço de concorrência inter– nacional se não se procura imprimir processos modernos à produção. E isto não é simples dever do produtor. É razão de ordem prioritária do Govêrno, devendo contar com o patriótico apoio dos industriais sulinos, que tanto se beneficiaram, nos áureos tempos da borracha, descapitalizando a Amazônia em proveito próprio e da região onde localizaram suas emprêsas.
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