Revista da Academia Paraense de Letras 1968

112 AUGUSTO ME!RA As grandes Iettras são o archivo das edades. Bem o dissera .Lucano : "O sacer, et magnus vatum labor, omnia fato Eripis, et populis donas mortalibus aevum !" .... Hoje, mais do que nunca, precisamos também, tomar pos1çao em face do mundo revolto e conflagrado. O êrro affronta a verdade. O despotismo põe em perigo a liberdade e como no poema alcanti– lado de Milton, os demônios se rebellam contra o creador, por tõda a parte se insinua o avanço da impiedade que detesta Deus, que combatE: Deus, que nega Deus. O abalo por que passa o mundo é mais temeroso e grave, do que se possa suspeitar. A vida humana, o direito humano, a moral humana, estão em perigo por tõda a par– te. A liberdade sente-se de nõvo, encalçada pela tyrannia. O mal é de profundidade inaudita e já hoje enche o mundo. O Brasil é, ter– ritorialmente, immensamente grande; nelle continuam a dormir jóias e jazidas de riquezas infinitas; maiores são os seus destinos, maio– res as nossas responsabilidades e não pode haver melhor estímulo do que honrando o nosso passado, reviver o gênio cívico doe; nossos heróes e ficarmos na altura de nossos deveres, face à face do nosso porvir. A consciência nacional estará sempre alerta; estejamos sem– pre alerta também. A palavra falada ou escripta foi sempre a guia– dora em todos os tempos e mais ainda, no perigo e na adversidade. O silêncio forçado das consciências vale pela prostituição dos povos. Grande é o poder da palavra e Carlyle dizia que Napoleão proferia palavras que valiam por batalhas. No meio das trevas que nos en– volvem e se alastram no mundo em tõrno, lembremos aquella pas– sagem, modelada em diamantino relêvo por Alexandre Herculano nas Lendas e Narrativas. D. ,João I construia o monumento da Batalha, commemora ti· vo do dia de Aljubarrota. O architecto que dirigia os serviços cegára e fõra, por isso, substituído por outro, pelo próprio Rei. A abóbada do edifício que o substituto construíra desabára. D. João I viu-se for– çado a chamar, de nôvo, ao serviço, o cégo que despedira. Orden-:>U– lhe que concluisse o trabalho. - "Senhor rei - disse o cégo, er– guendo a fronte que atê alli estivera eurvada - vós tendes ul'rl sceptro e uma espada; tendes cavalleiros e besteiros; tendes 0uro e poder; Portugal é vosso e tudo o que elle contém, salvo a liber– dade de vossos vassalos : nesta nada mandaes. Não !. . . vos digo

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