Revista da Academia Paraense de Letras 1968

110 AUGUSTO MEIRA o dissestes formosamente que agora "são communs os nos~os des– tinos e as nossas aspirações". • • • Formamos um grêmio de lettras e vós estaes, nesse caracter, perfeitamente bem entre nós. Se sois soldado, tanto melhor. Não sei que mysteriosa fôrça estreita o soldado ao homem de letras. O sol– dado é a abnegação, é o sacrifício, a generosidade, o valor, o surto propulsor dos grandes destinos. Tudo isso é verdade e é poesia. Cer– ta vez, cheguei a perguntar a mim mesmo, si a guerra com todos os seus horrores, não seria um imperativo esthetico da vida e consciên– cia insondável dos povos ? Será a guerra, acaso, um imperativo De esthesia, ou miséria universal ? Qual a rasão de tanto pungitivo Sacrifício cruel, duro, infernal ? Há, porventura, um bem afflictivo Eterno renascer de tanto mal, Onde achar o remédio a taes horrores Que o homem faça e os corações melhores ? ! O que dissera o Christo, o prqprio Christo, si baixando do céu, ou se levantando da terra, avistasse, por uma noite longa de luar magoado, o campo doloroso de uma batalha? Por tôda parte até o horisonte, como troncos da floresta calcinada, cruzes e mais cruzes até muito longe, marcando as covas rasas dos que tombaram ? E, estendendo o seu olhar dorido visse de rastros, quasi sem fôrças, um soldado que do meio dos escombros levasse ao lombo, de bra– ços abertos, a sua própria imagem, mutilada pelos obuzes e outro ainda, que naquelle estendal de tantas dores, arrastasse em seus pró– prios braços a cruz sagrada que as granadas aluíram e arrancaram ? Mas há guerra e há guerra. A de Leónidas, defendendo as Thermopilas, de Pelagio defendendo as suas montanhas, de J. D'Arc defendendo Orleans e a guerra do agressor : dos persas incendiando Athenas, de Aníbal, dissolvendo em vinagre os rochedos de um ca– minho, dos agarenos derribando a machadadas, os pesados portões dos templos de Hespanha... E uma e outra se confundem e abraçam, na mesma chamma maldita ou purificadora. David, o rei famoso, que derribou Golias e pela guerra victo– riosa engrandeceu o seu povo, era poeta da mais sublime inspiração. Em Salamina, quando os athenienses defendiam a sua cidade contra ,.,

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