Revista da Academia Paraense de Letras 1968

o PÁG1NAS .DO: PASSADO .109 tabernáculos do mundo escravisado. E, assim, continuou todo o mun– do, atravez da noite medieval e o crescendo de absolutismo que cul– minou em França sob o domini<:> de Luiz XIV, Luiz XV e Luiz XVI. As cousas na França iam de tal modo, que no dia em que Luiz XV, "o bem amado" estava para morrer, êsse facto culminante só interessava no dizer de Carlyle, porque valia "como uma esperança". Luiz XVI, apesar de muitas virtudes pessoaes mostrou-se, como so– berano,. incapaz de compreender, enfrentar e dominar a situação. Fluctuava como um leve madeiro na vaga bravia de um oceano em fúria. Adveio a revolução. Como dissera Montesquieu, a humanidade sobre o porvir. Veiu o regimen constitucional e, nas constitui– ções os direitos do homem, na guilhotina decepando Luiz XVI, acommeteu face a face a tyrannia. Os ideaes libertarias do povo francez se fizeram flamulas plantando a republica, restaurando os dias de Pericles e Solon; os ideaes france~es de liberdade, igualdade e frater– nidade se derramaram por todos os povos. As velhas sociedades to– ram revolvidas até os fundamentos. Por um desse~ caprichos da his– toria o grande cõrso que se fez Napoleão; os semeou, elle proprio. por toda a parte, levando por toda a parte as · suas armas ·1ictorio– sas. Portugal tambem fez a sua revolução, impõz um ·regímen cons– titucional e taes idéas por lá ferviam, quando Petroni arremessado, e moço, nunca esquecido da Patria, de Portugal ao Pará, trazendo ao Brasil, por primeiro, a chamma da revolução inovadora. Foi como um relampago na treva, um raio na escuridão, electrisando o senti– mento nacional. Foi estrelfa cadente que fez Prometheu. Aqui che– gando não foi um contemplativo. Agiu. Fez substituir o governo que tinhamas, por uma nova Junta que melhor estivesse á altura das circunstâncias, i.'undou um jornal e no ardor de sua coragem cívica foi dos primeiros sacrüicados em holocausto ás aspirações liberaes do Brasil. Naquella nossa velha Egreja de Sant'Anna de vetustas paredes monacaes, sob aquellas arcadas hoje silenciosas, onde parece às vê– zes vogarem rondas de mistério, sob aquelle zimborio impendente e mystico, foi, naquelle tempo cantado, em pompas magestosas, Te– Deum solenne com que a gente de então festejou, de conta propria, o grandioso acontecimento. A prisão ulterior de Patroni não fêz esmorecer o sentimento popular e muito não tardou que os acontecimentos em marcha, por todo o Brasil, nos levassem à independência e consequente adhesão do Pará, ao movimento geral de nossa libertação política. É um facto de culminante significação que hoje mesmo commemoramos e que a vossa presença entre nós, filiado ao nosso grêmio, à nossa sorte e às nossas aspirações, vem dar decisivo e eloquente esplendor. Vós

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