Revista da Academia Paraense de Letras 1968
PALESTRA PROFERIDA POR SULTANA LEVY ROSENBLATT 103 E a verdade é que, a maior parte de tudo isso, só os livros me en– sinaram. Nunca vi um seringa!; conheci-os através de Ferreira de Castro e a repetição do que êle contou, mais recentemente, pelos ari– gós, os infelizes "soldados da borracha", que vinham trazer suas quei– xas aos tribunais da Justiça do Trabalho. Do quase lendária uira– puru foi Raymundo Morais quem melhor falou. A pororoca e suas consequências, é Argota Lange (a quem por sinal conheci quando pe– quenina) o que descreve com mais detalhes e colorido . Martius, Ba– tes, Humboldt, nos dão explicações cientüicas dos fenômenos comuns que mais nos interessam. Em Euclides da Cunha, Gastão Cruls, Ja– cob Cohen e tantos outros audaciosos que escreveram sôbre a Ama– zônia, bebericamos informações mais precisas sõbre o homem e seu "habitat", e como prova do nosso apreço repetuoos em palavras flo– readas as observações colhidas por êles com duros esforços . Compulsando todos os elmentos que me auxiliaram a realizar êste trabalho, literatura séria, fatos reais, mitologia, anedotas, resta àe inédito o enredo do romance e os seus personagens principais, ês– tes fictícios; algumas lendas inventadas ao correr da pena, tais como a da flõr da aninga e a da seringueira, e certas informações colhidas por observação própria ou em fontes especiais, como, por exemplo, na natureza, o fenômeno da árvore farol, e no homem, o processo da extirpação de cáries dentárias por meio de golpes de navalha . .. Não tenho a veleidade de pensar que êste livro aumenta ou contribui de alguma forma para auemntar o acervo da literatura amazomca . Considero-o apenas um romance escrito numa explosão de saudade . O original foi todo !eito no linguajar do povo, mas por sugestão da editora modifiquei-o . A história, esbocei-a na imagina– ção completamente diversa, mas apareceu aquela rosqueira e achou melhor contar com que sacrüícios um estudante pobre chega à con– quista de seu titulo . Que não se veja no resultado negativo dessa luta, um desencorajador exemplo para tantos outros filhos de ros– queira; pelo contrário; meu objetivo é pedir particularmente maior amparo a êles, como estudantes, e maior proteção aos professõres nomeados para o interior, clamando contra a injustiça que êles sem· pre sofreram, em comparação com os que exercem o magistério na capital . Segundo Dalcídio, êste livro é mais um. Eu diria ainda um . Pois outros e outros virão, de diferentes autores e diferentes temas, acon• tecidos no variado cenário paraense . Haja vista a "Terra Enchar– cada" e "Barracão", escritos no mesmo tempo, mas em ambientes diversos e abordando distintos problemas sociais . "Barracão" é um romance de muita gente, muitas histórias e cenários variados; 0 leitor anda pelo Jurunas, pelo Pôrto do Sal, pelas cidades do interior,
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