Revista da Academia Paraense de Letras 1968

Palestrá Proferida Por Sultana Levy Rosenblatt 28' dé' janeiro de 1965.' Devo a honra-·dé me achar aqui nêste momento à gentileza do sr. Presidente desta Academia de •Letras, coronel Jarbas Passarinho, em quem as exigências absorventes do alto cargo público que ocupa ·felizmente não esmorecem o entusiasmo e a cordialidade peculiares áo homem intelectual. · O prazer de· me sentir nêste ambiente à vontade, por certo não -seria integral se me houvesse resignado tomar a cidadania norte– americana. Se, aceitando integralmente o conceito de Monroe, pelo qual os países americanós formam um só bloco e como ·tal devem manter-se coesos, o ideal talvez fôsse que se fundissem fronteiras e se unifi· casse a nacionalidade; mas, sem dúvida, não é a situação geográfica nem as coincidências históricas que fornecem os elementos para a _formação do sentim~ntalismo pátrio; êste é feito da amálgama de .convicções here<;litárias, capr,chos tradicionais e hábifüs imutáveiS. _"Jr:. por isso que, longe do ambiente em que crescemos, achamo-nos mais ligados a êle pela sua presença constante na nossa alma, ou melhor, por sentirmos _falta da alma que lá ficou retida. Quero assim explicar o "fenômeno", como chamou alguém, de haver escrito meu li.vro "Barracão" quase inteiramente de reminis– cências, achando-me longe de Belém há longos anos. Já descrevi, há tempos, o choque entre o dever e a nostalgia, -e a luta do sentimentalismo contra .o raciocinio, travados no meu intimo, quando, premida por circunstâncias especiais, preparava-me para receber a cidadania norte-americana. o processo dessa prepa– ração cívica, a ·rn:eu· ver, ímportava em desnacionalizar-me completa– mente, para assumir, isenta de quaisquer compromissos com o berço pátrio, a pátria adotiva . E foi contra essa remlncia forçada que tõ– das as minhas reéotdações e saudades clamaram e se insurgiram• Era quase uma obcessão . ·Meu ·pensamento fugia da Carta Constífu 0 cionál e perdia-se entre · alucinações . · Vozes· amadas entoavam dos