Revista da Academia Paraense de Letras 1968
SlLVIO ME,IRA SAÚDA JOSUÉ MONTELLO 97 tas vêzes, os faróis que dissipam as trevas e nos indicam os exatos caminhos. As glórias humanas tantas vêzes se alimentam dessas luzes e a nossa grandeza reside precisamente em saber olhá-las dentro das suas exatas proporções. Josué Montello - o nosso homenageado de hoje - também teve os seus fogos-fátuos a iluminarem os seus caminhos, mas em vez de desprezá-los soube colhêr a sua luz e dar-lhes as proporções de um clarão, transformando o precário em definitivo, o vacilante em per– manente e eterno, em chama que não se apagará jamais, que deixou de ser fátua para ser perene, imorredoura. É essa chama que brilha na sua obra literária, que refulge além fronteiras e que antes mesmo de ati~gir os cinquenta anos de idade já lhe assegurara um lugar de alto relêvo na história da literatura brasileira contemporânea. As suas obras completas poderiam emparelhar com as dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, e já atingem a cêrca de trinta e nove voiumes. Entre êles novelas e romances, crô· nicas e ensaios, dos quais pomos em evidência : "A décima noite", "Labirinto de Espelhos", "O Presidente Machado de Assis", "Os de– graus do Paraíso", "A luz da estrêla p~rdida", "A luz da estrêla mor– ta", "Cais da sagração", "O fio da meada", "Na casa dos Quarenta", "O caminho, a verdade e a vida". Josué Montello nasceu no Maranhão, como Gonçalves Dias, Artur e Aluísio Azevedo e João Francisco Lisboa. Sua terra natal ceie· brizou-se no passado pelo contingente invulgar de escritores, poetas e gramáticos, a enriquecer as letras nacionais, de tal forma, que che· gou a ser chamada "Atenas Brasileira". Uma nova Atenas em terras da América a encaminhar para a vida do espírito os seus filhos, ge– rados e criados em uma gleba onde os a res p arecem p ropícios à boa formação de intelectuais. Já houve quem dissesse que a "Atenas brasileira " hoje é "Ape• nas Brasileira", numa ironia impiedosa para com a ter ra d as pai• meiras onde canta o sabiá. Josué Montelo, no entanto, é um exemplo de que a Atenas con– tinua a ser Atenas. Pertence à mesma estirpe dos Azevedo (Artur e Aluísio), com maior brilho talvez, porque o seu espírito se es– praia por outros setõres da inteligência, inclusive como poeta, de pe· quena, mas sólida produção, seguinpo o principio do escritor latino : MULTUM, non MULTA. E para oferecer aos ouvintes um exemplo apenas da magnifica arte de poetar de Josué Montelo, vamos reproduzir um soneto de sua autoria, em que se revela o seu poder de síntese, a sua ernotividade escrava de 14 versos dignos de Petrarca ou de Bocage :
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