Revista da Academia Paraense de Letras 1968

96 SILVIO MEIRA Temos um antigo interchmbio Com as luzes do pantanal. Vêm para mim como velhas ancestrais. E descubro, de mais a mais, Entre elas e os meus, laços de família, que fôrça alguma destrói. Esse ímpeto, êss,: sobressalto, essa vacilação, êsse modo de curvar-&e que não agrada aos demais. Minha alma também se encontra onde se acabam os caminhos na bruma que a tantos amedronta, e muitas vêz!es também iá me apaguei debaixo das palpebras. Mas até os fogos-fátuos desempenham um papel n a existência. Quando Goethe escreveu a cena fausteana da Noite de Valbur ga, pôs à frente de Fausto e Mefistófeles os fogos-fá tuos a ilwnína rem a montanha. Mefistófeles ameaça extingui-los com um simples sôpro, em nome do diabo : Ei / ei ! er denk/'s den Mensche11 11achzuahmen. Gch er 1111r grad, i11's Tcufe/s Namc11 ! Sons/ blas ich lhm Seill Flackerleben aus. A i ! Ai! pensas que imitas a natura humana. Comporia-te direito em nome do d emô nio, Se não, 1111m sôpro só, te extingo a vida é a chama I A que o fogo-fátuo responde que b em reconhece o poder de Mefisto mas faz-lhe ver : A l/ei11 bcde11k1 / der /Jcrg 1st heute tauberto ll, Und we1111 ci11 /rrlicht Euch dic Wege weise11 sol/, So miisst lhr's so gc11a11 11iclit 11c/i m en. Pensai co11t11do bem! montanha é tenebrosa E se um fogo-fátuo aclara a .re11da umbrosa Com l11111i11uso hal o, E: preciso também não q1~·rer humilhá-lo. Até Mefistófeles necessitava dos fogos-fá tuos para acla rarem os seus camniho~ na montanha. Com tõda a sua fragilidade, a sua incerteza, o seu sobressalto e vacilações, como dizia Rilke, os fogos-fátuos surgem em nossas es– tradas quando menos esperamos, e nos dão a ilusão de esplendor no negrume da noite. Não podemos desprezá-los porque são êles mui-

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