Revista da Academia Paraense de Letras 1968

94 SILVIO MEIRA que outros valores a integravam, vamos encontrar, entre os antigos estudantes daquela turma que em 1932 ingressou no Ginásio, grandes médicos e catedráticos de Medicina, catedráticos de Direito, milita– res em altos postos, vários diplomatas e até um Ministro de Estado. Deixamos de citar nomes para não confron_tar a glória huma– na dos que se fizeram grandes, com a grandeza divina dos que per– manecem . pequenos. Cremos, porém, que de tôdas as glórias a mais sedutora é a de Josué Montello. Não pelo título que ostenta de Membro da Acade– mia Brasileira de Letras, que o titulo é rótulo, o titulo é a exteriori– zação de uma situação social, mas pela satisfação íntima, sujectiva, que vem do coração para o cérebro, de sentir-se um criador de bele– zas, qüe parece ter roubado ao céu o dom de conceber e dar forma às suas criaturas : a do romancista. Para chegar a tal culminância percorreu Josué outros caminhos à procura de seu Gênio. Ainda estudante escreveu - de parceria com Nélio Reis - o pequeno livro "Histórias dos Homens da Nossa His– tória". Em breve deve ter compreendido que a sua seara não deve– ria ser essa. Foi de escalada em escalada até atingir o cume procura– do nessa cordilheira em que pôs à prova as suas qualid~des de alpi– nista da inteligência. Passou por outros gêneros, pela história, pela poesia, pelo teatro, mas se fixou no romance e o romance é hoje a sua grande predileção. Isso porque segue o conselho de Goethe, ne– les põe sempre um pedaço de sua alma : "Aquilo que não sentes nunca deves buscar. "l!: preciso que o queiras com a alma em fogo (que venha de dentro da alma)". "Wenn ihr's füehlt ihr werdt's nicht erjagen. "Wenn es nicht aus der Seele dringt . . ." Durante dois anos fomos colegas. Josué, de repente, desapa– receu de nossos olhos. Que fim levara ? Transportara-se para o Rio de Janeiro, seguindo a velha senda dos intelectuais do passado, dos jovens do passado, que tomavam um "Ita no Norte" com des– tino à Maravilhosa, para vencer ou para morrer. Muitos morreram, outros venceram. E tantos eram os paraenses e amazonenses que se– guiam tal rumo, que se chegou a criar no Rio de Janeiro uma ex– pressão, de cunho um tanto pejorativo: "Exército do Pará". Cremos poder incluir nesse exército os recrutas do Maranhão, ao menos em obediência à legislação federal, que já impôs, com mui– to mais autoridade do que o Tratado de Tordesilhas, que a Amazô– nia é Brasil e que o Maranhão é Amazônia. LEGEM HAB.l!.~IDS .. .

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0