Revista da Academia Paraense de Letras 1968

92 SfLVIO MEIRA De Campos Ribeiro, o suave poeta de "Aleluia", dedicado à im– prensa a quase meio século, era um trabalhador incansável à frente daquêle jornal. Um completava o outro. Machado Coelho também já brilhava a êsse tempo. Edgar Proença era outro nome, sempre em evidência, nas colunas do "O Estado do Pará", como precursor que foi, no Brasil, dos cronistas sociais. O Josué que vestia a _farda de mescla tôdas as tardes e que as– sistia atencioso as aulas de Avertano Rocha, José Alves Maia, Helio– doro de Brito, Manuel Lobato, Santana Marques, Amaral Brasil e ou– tros mestres daquêle já distante pré-jurídico, não nos parecia o mes– mo ,!osué que, pela manhã, à paisana, frequentava as rodas literárias e escrevia em bom estilo nos jornais da terra. • * • Seu destino parece que era o de vestir "farda". Trocou, no en– tanto, a horrível farda de mescla de ginasiano, pelo enfeitado fardão acadêmico. Cremos que ficou alheio a alguns episódios burlescos da épo– ca, como aquela grande greve, por nós comandada, que importou em fechamento do Ginásio por alguns dias, pondo . em angústia a alma do seu Diretor, mestre boníssimo e muito querido, Honorato Fil– gueiras. Foi nessa oportunidade que verificamos quanto pode ser gran– de o coração de um professor, quando abriga compreensão para com a juventude desorientada. O Ginásio mantinha-se paralizado. A greve contra a reforma do ensino de Francisco Campos· (que nos obrigava a cursar mais dois anos), era total. Sal~s de aula vazias. O general Daltro Filho amea– çava intervir, por ser Comandante da Região, fichando jovens de 15 a 18 anos como comunistas ... Não nos conformávamos com a tal reforma, que nos fazia descer do primeiro ano da Faculdade de Di– reito, onde já estávamos matriculados e frequentávamos, depois de aprovados em concurso de habilitação regular e nos obrigava a ves– tir a farda grosseira e cursar por mais dois anos o pré-jurídico. Pa– ra nós isso era uma violência física e moral. Uma "capitis demi– nutio". Honorato Filgueiras, então Diretor do estabelecimento, convo– cou reunião de tôda a estudantada em um dos salões do Ginásio. Sen– tamos logo à frente, na condição de líder do imprudente movimento. Honorato, co.m o seu vozeirão, como se nos ensinasse a anali– sar Camões, dirige-se à multidão estudantil num apêlo dramático, os

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