Revista da Academia Paraense de Letras 1968

SILVIO MEIRA SAÚDA JOSU~ MONTELLO 91 Viera daquêle viveiro de paraenses honorârios, o Ma ranhão, qu2 :nos deu paraenses como Nélio Reis e Juracy Reis Costa, aqui presente. Josué, àquela época, dáva-nos a impressão psicológica de ser muito mais avançado em anos. Refletia-se em seu semblante e em suas atitudes aquela maturidade que, acreditamos, estava acima de sua própria idade real. Sempre às voltas com os livros, um tanto circunspecto, lem– bramo-nos bem de alguns episódios longínquos. Morava Josué nos altos de um botequim, esquina da travessa 7 de Setembro com a Praça da Bandeira, em Belém. Uma sala gran– de, janelas para a praça, prédio antigo, estilo colonial, que ali ainda se encontra. No térreo funcionavam ruidoso bar e mercearia, aonde ocorria a multidão agitada de ginasianos, fardados de mesc~a cinzen– ta com botões pretos, todos suarentos; isso quando não preferiam andar mais um pouco, em busca da garapeira que demora à mesma travessa, próximo da rua João Alfredo, onde os esfaimados estudan– tes abrandavam os apetites nas suculentas unhas de caranguejo (sem caranguejo) com caldo de cana grosso e nem sempre muito puro. Josué, no entanto, não era homem de patacoadas. Austero, t al– vez mais do que hoje, escondia-se em sua Tebaida, o segundo an– dar do macróbio edüício e ali se recolhia à sua rêde, em tôrno da qual se empilhavam montanhas de livros. A não ser a rêde e os livros no chão nada mais nos ficou na memória. Queremos crer que não houvesse móveis no quarto de sim– plicidade franciscana. Pelo menos, se êles existiam, ficaram afasta– dos do depósito do nosso sub-consciente, por um processo de elimina– ção psíquica explicável : só guardamos a lembrança de livros no r e– cinto. Amigos joviais, víamos todos em Josué, um colega mais expe– rimentado. Enquanto vivíamos, quase todos os da turma, ligados às cadeias da casa paterna, dependendo em tudo dos nossos adorados pais, Josué merecia o nosso respeito por ser um colega independen– te, subsistindo à própria custa, escrevendo em jornais, como "O Estado do Pará", que tinha à sua frente dois fanais das letras provincianas, um em prosa e outro em verso : Santana Marques e De Campos Ri– beiro. Santana Marques a brandir a sua pena, como uma espada de fogo nos seus artigos de fundo do "O Estado", que t inham em Aci– lino de Leão um permanente leitor e admirador, a tal ponto, que, certa vez, Mestre Acilino - antigo presidente desta casa - nos con– fidenciou afetivamente : "Se o Santana escrevesse todos os dias um editorial o "Estado" seria o jornal mais lido do Pará''.

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