Revista da Academia Paraense de Letras 1968

1 A ORAÇÃO OE D. ALBE-RTO RAMOS 11 DO COSTA. Não incidiríamos na pecha de exagêro se afirmássemos que o patrono de nossa cadeira foi uma das personalidades mais im– pressionantes e mais polimorfas que já viveu na Amazônia. Sem re– ceio de contestação, podemos afirmar que ninguém se lhe avantaja na segunda metade do século passado. Não aludimos apenas à sua atuação fulgurante no púlpito ou nas letras da Igreja, nem tão pou– co à sua atitude decidida e decisiva na "Questão Religiosa". Sua ge nialidade se espraia aos mais diversos rincões da planície. Sua elo– quência tonitrôa nos templos mais vastos de Belém ou Manaus, como nas cape}as mais humildes das margens do Caeté às barrancas de Tabatinga. Quando em visita pastoral nos embrenhamos pelos afluen– tes do Amazonas, como no lago do Uruapiara, lá nos confins do Ma– deira, nos Paranás de Silves ou Urucará, de Manaquiri ou de Maués, lá encontramos a tradição como brazão de glória imorredoura : "por aqui passou Dom Macêdo Costa". Seu zêlo não se circunscrevia às preocupações religiosas, peias quais combateu destemidamente. Com alma de artista e sensibilidade de poeta, despertou e animou vocações e criou centros de cultura. Se alongardes a vista ao patrimônio cultural de nossa terra. podereis vislumbrar sempre algo de pioneirismo do combativo pre– lado baiano. Formado na França, sob a influência de Lacordaire, ]utou de– nodadamente para libertar a Igreja do absolutismo que a subjugava no Brasil. Defendeu o aprimoramento da educação eclesiástica, buri– lando a célebre "Memória sôbre a Questão dos Seminários", documen– to síntese da situação do Clero no Brasil, datado de Cametá, em vi– sita pastoral, a 28 de julho de 1863. Convidou sacerdotes francêses e membros da Congregação do Espírito Santo para o Colégio e Semi– nário do Carmo, abriu alentada Biblioteca do Clero, hoje, quase tôda devorada pelos cupins; enviou para doutoramento em filosofia ou teologia na França, jovens talentosos que honraram mais tarde as fileiras de nosso clero, ou sem atingir ao sacerdócio, retornaram às nossas plagas com os seus nomes aureolados na medicina e outras ciências, como Higino Arnanajás, Mariano de Aguiar.. . Se investigardes a história da Arte na Amazônia, não encon– trareis dificuldade em assinalar Macedo Costa a incentivar a conclu– são e a proferir o discurso de inauguração do Teatro da Paz, (cujo nome êle mesmo insinuou para que Nossa Senhora concedesse paz à nossa terra), a empreender corajosamente a reforma completa de nossa Catedral que logrou transformar o velho templo colonial na "mais famosa e completa catedral do Império", contratando a vinda de mestres consumados na pintura, como Domênico de Angelis, ou na escultura, corno Luca Carimini.

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