Revista da Academia Paraense de Letras 1957

j REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 3 Discurso de Peregrino Junior Aqui está o notavel discurso do dr. Peregrino Júnior, presidente d!I, Acàdemia Brasileira ·de Letras, á noite de 3/5/56 na séde da Academia Paraense de Letras Senhores acadêmicos: Atendendo à vossa cordial convocação, para mim tão grata, aqui estou, na serena fraternidade do vosso convivia, para celebrar convosco o 56.º aniversário da Academia Paraense de Lêtras. Honra-me e alegra-me a fortuna, que o destino me concedeu, de falar-vos hoje, nesta Casa da cultura paraense, trinta e seis anos cor– ridos sôbre a minha partida do Pará. Se de um orador sempre se pede, na observação de um clássico da nossa língua, como primeira qualidade, ponha nas palavras a fôrça do coração, asseguro-vos que é com êste, inteiro e palpitante, que aqui agora vos falo, tqcado de gratidão e contentamento. Da vossa Academia poder-se-ia dizer hoje, parafraseando o Pro– fessor Chauffard, que ela não é velha de 56 anos, mas jovem de 56 anos, pois aqui a chama do espírito, que arde radiosamente, se alimen– ta do fogo generoso da mocid~de, isenta e desinteressada. Contudo, por falar em juventude, seja-nos licito advertir-vos que as Academias, ao 'contrário das mulheres, é do tempo que tiram sua glória. E a gló:– ria acadêmica, meus senhores, grave e esquiva, é da categoria d'aquela de que nos dava notícia o velho Machado. . . . que fica, eleva, honra e consola . . . Já viveu o Pará alguns instantes felizes de esplendor hltelectual: primeiro, coincidindo com a prosperidade econômica, nos tempos áureos da borracha, quando a redação de um jornal como a Provincia aglutinava os maiores escritores do Pará e do Brasil, para a festa gra- · tuita do pensamento; depois, já na fase crespucular do ouro ·negro, por milagre de um núcleo solar de poetas e prosadores, tendo à van– guarda Lucidio Freitas, .l\lves de Souza, Raimundo Morais e Tito Franco de Almeida, fundando a Efemeris, projetava-se o Pará de novo, com prestígio sing~lar,, no plano nacional. E; por fim, agora, quando vós todos, restam·adores e animadores desta Academia, fazeis dela o centro de gravitação dos interêsses e da solidariedade dos melhores valores literários da Amazônia . A vossa Academia representa hoje ,no panorama da vida para– ense, uma bela tradição de cultura. Fundada a 3 de Maio de 1900, e renovada, em 1913, pelo entu– siasmo de Martinho Pinto, Elmano Queiroz e Rocha Moreira - que tão de perto conheci e tanto estimei - a Academia tem vivido vida útil e gloriosa. Acabo de escutar a voz de um coração: a bondade generosa de um amigo. Deixai, pois, que obedeça ao conselho de Frei Diego de Estrela: a um corazon no hable sino otro corazon. Quero, por isso, qué ao coração de Ernesto Oruz, fale apenas o meu comovido coração. Permiti, portanto, que vos abra, sem reservas, o meu coração, comovido e grato. Os meus eminentes confrades do Pará não imaginam talvez a emoção, esquisita e grave, com que, neste momento, dirigindo-lhes a minha palavra fraternal de saudação e agradecimento, eu volvo co– movidamente o pensamento para os companheiros que já se foram,

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