Revista da Academia Paraense de Letras 1957

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 45 A principio - continüa Orico - pode ser que tenham, falado da es– tética com que o Lamarão enterrava os seus semelhantes; no entanto, o que pode afirmar é que, quando de lá voltaram, falavam justamente na feição do conto moderno, exaltando a adjetivação glor-iosa de Qonzaga Duque, a página maravilhosa das ruínas, a concepção per.:. turbadora dos dois personagens turbulentos, sentados frente a frente, "tendo no olhar uma expressão que se não saberia dizer se era a dor de não gozar ou se era o gozo de não sofrer" . Admirei-lhe - acrescenta Osvaldo Orico - a decidida vocação literária, que o ia prendendo ao meu espírito, tornando-ó a êle como a mim, como se diz vulgarmente, duas promessas. .. Na desordem e na anarquia do seu quarto, ia encontrá-lo Os– valdo diàriamente, no seu altar de desarrumação, onde os santos eram Anatole, D'Anunzio, Machado de Assis, Otávio Mirbeau, Tolstoi, Nordau e vinte outros mais, "profusamente arrumados pelo chão, e que eram as sentinelas do estudo de ambos". Traçando o perfil de Peregrino Júnior, na secção "Figuras e Ca– retas", da revista "A Semana", acobertado no pseudônimo de Gil Vaz Rocha Moreira, dizia: "Filho de João Fagundes Peregrino, É também João Fagundes . Esfusia vendo um perfil de moça, que o menino de as moças adorar, tem a mania. Nasceu no Rio Gxande, e em pequenino Já nas lutas de amor se imiscuía, e por amor ao belo feminino, fez-se estudante de odontologia . Quando marcha de pressa é um catave!lto; correndo é um furacão; não corre, voa; ca~ça quarenta e três, é um pé de vento. Talento não lhe falta, oh! isso não! Tem talento tem pernas e tem lôa . .. E tem tendência para o boticão . Ao chegar à Capital Federal Peregrino Júnior se tornou grande àmigo de Ribeiro Couto. E ass~ os dois "começaram a vida como rapazes de jornal", naquele Rio de Janeiro em que eram provincianos, românticos e um pouco espantados. É Ribe~ro couto quem nos diz:i. Peregrino andavà sempi;e éC?m livros deba1:xo do bràço. ll:studava uma côiSà misteriosa. De);>o1s, vim a saber; era medicina. Como podia conciliar as horas de estudo e 'de laboratório com as horas absorventes da -redação? É que, desde mo– cinho, Peregrino Júnior sempre surpreendeu os seus companheiros com a atividade prodigiosa de que é capaz . Tempos difíceis, aqueles nossos. Naquele ano de 1920, para nós a vida era bem dura. Ainda '

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