Revista da Academia Paraense de Letras 1957
' (.t REVISTA l>A ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 43 O Peregrino Junior que muitos desconhecem' De GEORGENOR. FRANCO \ ' Peregrino Júnior, atendendo convite da Academia Paraense de Letras, ·visita Belém para presidir tôdl'!S as solenidades que o nosso Sllogeu está realizando em comemoração ab 56.0 aniversário de sua fundação. . . _ . · Peregrino Júnior iniciou sua' vida literária no Pará'. "Nascido no Rio Grande do Norte, deixou sua terra rumo ao Pará a fim de fazer ·à curso de dentista . Em 1920, em fevereiro, formou-se pela Faculdade Livre de Odontologia do Pará, então funcionando numa das salas do secular Ginásio "Pais de Carvalho". Foi o orador da turma, da qu!l,l faziam parte Lima Obadia, Heitor Gemaque Alvaro e Waldemar Vieira Barros. Foi paraninfo o Dr. Carlos Arnóbio Franco. · Aqui chegando começou a trabalhar na imprensa, ing·ressando na "Folha do Norte", secretariando a revista "A Semana", então dirigida por Manuel Lobato, e dirigindo também a "GuajarJ,na", i:evista que teve vida efemera, fazendo com que Peregrino Júnior "ficasse, àquela época, um fútil incorrigível, só sabendo escrever frivolidades - êle que só sabia lavrar coisas sérias, pesadas e graves". · . · Dos seus amigos daquela épóca, época na qual êle olhava com uma infinita ternura uma mulher envelhecer, "porque tôdas as mu-: lheres que envelhecem com dignidade o comoviam", houve um que se tornou seu irmão. Foi Osvaldo Orico. · · · , O quarto horrível que êle habitava no primeiro andar de um .pré– dio à rua Manuel Barata era denominado, pelo -au~or de "O Tigre <_!a Abolição", de "Tonel" e o .seu ocupante de Diogenes. · No quarto nao havia onde sentar. E -por isso mesmo, Osvaldo Orico sentava-se nas malas sôbre os livros. Em crônica escrita em 1919, Peregrino Júnior dizia que repartia as -horas que lhe sobravam do jornal, entre alguns livros e o amor de uma mulher -terrível, como tôdas as mulheres, e que era, segundo o seu proprlo conceito, "a condição de harmonia de sua vida".. . . . . - Certo dia, Peregrino resolveu mudar-se, abandonando o "Tonel"; deixanc o de ser Diogenes, ficando empoleirado em uma "infame água furta.da" , com uma roseira à janela e os livros pelo chão. Era o "Jar– dit_n da Melancolia", como êle literariamente chamou a sua nova mo– rada. Foi ali que Peregrino Júnior conheceu o poeta Benedito Martins Napoleão, "de cabelos castanhos e olhos profundos", que lhe fôra apresentado por Osvaldo Orlco e de quem Severino Silva falava com muita simpatia. Conta Peregrino que Martins Napoleão diàriamente, às 2 horas da tarde, la conversar com o solitário do "Jardim da Melancolia ". Entrava silencioso, ao contrário de Osvaldo Orico e outros que eram tumultuários e berrantes . Martins Napoleão jamais interrompia a sesta do Peregrino. Sen– tava numa mala. lia as novidades que achava pelo chão e escrevia versos formosos, brilhantes. Certa tarde, segundo revela Peregrino em crônica escrita em 1920, M)artins Napoleão leu de cabo a rabo as "~emórla Póstumas .de Braz Cubas", porque, seguindo o conselho de Machado de Assis, Peregrino "morrera interinainente", até às 16 horas. Pérlcles Morais, presidente perpét uo da Academia Amazonense de ·Letras, quando esteve em Belém em 1919 ou 1920, ficou surpreso
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