Revista da Academia Paraense de Letras 1957

. ,. REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 35 - - ------- balhador lnteleetual que eu tenho conhecido, - trabalhador lnfa– tigávele solitário, - êSte homem admirável, com esta juventude que eu 1nvejo, porque nunda vi um homem tão ,i,ovem pela lucidez, pela vivacidade, pelo bom humor, como êste que está aqui ao meu lado. Pois bem, eu tive uma ventura extraordinária hoje, porque a Aca– demia Para~nse de Letras me delegou uma missão, que eu cumpro com uma emoção ·que ninguém pode imaginar, que é a missão de trazer, em nome da Academia a Paulo Maranhão, a comenda da imortalidade, uma comenda que foi criada para os seus grandes membros e que eu vou ter o prazer de colocar no meu grande amigo e mestre Pauio Ma– ranhão. E, desta forma, ligando minha vinda ao Pará a um dos atos simbólicos que mais me emocionam, que é o de poder condecorar - eu que fui um dos seus discípulos, eu que nasci intelectualmente das mãos dêste grande mestre, - de :poder condecorar aquele homem que t~ntas vêzes me condecorou com os seus conselhos e !). sua bondade". AGRADECE O PROFESSOR MARANHAO Após receber a comenda das mãos de Peregrino Júnior, o diretor das "Folhas", também de improviso, pronunciou as seguintes palavras: "Sr. Presidente da Academia Brasileira de Letras, cuja presença honra esta cerimônia; sr. presidente da Academia Paraense de Letras; demais senhores. Guardarei a lembrança desta hora feliz até os meus últimos dias. Todo homem tem, no curso de sua existência, uma fração de tempo inolvidável. Esta é a minha, vós tereis a vossa. Não coro de receber a mercê insigne com que me distingue a nossa Associação de letras humanas, por que não tem o desígnio de p~emiar o mérito, pois que nenhum possuo, mas assinalar a sobrevi– vencia e longevidade daqueles que a fundaram. Três grandes alegrias, três profundas emoções perturbaram a se– rena quietude de minha alma nestes 84 anos: a primeira, ao pousar nos lábios de minha mulher, trementes e mudos, aos 14 anos da sua ~dade e aos 23 da minha, o beijo nupcial, que não era então o que hoje e, na penumbra de um ambiente que a luz suave e doce dos seus olhos amendoados ilunúnava; a segunda, ao nascer meu primeiro filho, que sete a.nos depois a meningite cruel me arrebatou dos braços; a terceira fostes vos que ma destes ao receber de vossas mãos o que eu chama– rei rocal votivo, ouro e prata, que exacerbaria o instinto ~e :1-mbição do Harpagão de Moliêre e do avarento de Balzac. A minha ultrma ale– g~ia espero-a da morte, quando transformar em pó caído, como diria Vieira, o barro mortal de que Deus me afigurou. Busco no fundo do meu coração a palavra justa, precisa e sincera que possa traduzir o meu reconhecimento. Obrigado. Obrigado a Pe– regrino Júnior, o deslumbrante espírito, que tantas obras primas tem ~oncebido, e a quem admiro desde a juventude estudiosa, quando eu e el~ comungávamos a mesma hóstia diante da pedra ara_do trabalho, neste templo; obrigado a Bruno de Menezes, criador gemai ?e ritm<:>s sonorosos; obrigado a Georgenor Franco, o mancebo infatigavel, c~Jo dedo construtivo de gigante surpreendo em tudo isto; obrigado, enfun, a Deus, por haver prolongado a minha vida até êste momento. · Vou terminar. Uma lágrima impertinente teima em assomar· à sacada de meus olhos para envergonhar-me e eu não quero chorar di– ante dos vossos lábios, que sorriem" .

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