Revista da Academia Paraense de Letras 1957
32 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ----- Anotastes com a emoção de um enamorado, o que seria mais tar– de o têma delicioso dos vossos livros. Quando estes têmas amadure– ceram no vosso esJ;>írito e lançastes "UM DRAMA NO SERINGAL"', "PUSSANGA", "MATUPA" e HISTÓRIAS DA AMAZÔNIA", não sen– tíamos em vossas descrições, como observou com justeza Manoel Bandeira, "o homem deslumbrado, senão o homem atento e lúcido'.'. Não dormistes sôbre os louros dos primeiros livros. ' A vossa bibliografia é vasta, quer literária ou científica, pois sou– bestes ligar todas as vossas atívidades, sem decurá-las, nem enciu– má-las pela preferência de qualquer delas. Ouçamos o que dizia Ribeiro Couto, que foi vosso grande e dileto amigo: "Do reportêr saiu o escritor; aí estão os seus fortes livros, portadores das paisagens e dos tipos amazônicos. Do escritor saiu o médico; e sei de muitas casas onde a simJ;>les presença de Peregrino Júnior já é remédio. Do médico saiu o professor, de resto êle sempre foi: professor de entusiasmo. Toda a sua vida é uma afirmação viril de otimismo e confiança..Tudo isso, sem perder um certo ar de candura, um quê de adolescente que subsiste nele e é consolo para os que envelhecem mais de– pressa". Senhor Peregrino Júnior: Quando nós nos encontramos pela primeira vez, nesta terra, era– mos ambos estudantes. Tinha eu, também, a minha inclinação pelo jornalismo. Fui reporter, como fostes. Encontramo-nos muitas vêzes, juntos, por dever de obrigação profissional. Também escrevemos sôbre os mesmos têmas. Dediquei-me à escola indianista, a sertaneja, foca– lizando aspectos e vultos da Amazônia. Foram esses os assuntos dos meus primeiros livros. Quando o destino nos colocou novamente jun– tos no vosso consultório médico, há cêrca de um mês, e me falastes da pe~são de dona Mariquinhas, ali defronte do Tribunal Regional Elei– toral· dos passes de bonde, e, do esfôrço desesperado para equilibrar a de~pêsa com a receita, percebi o vosso amôr pelo Pará. Só lembra uma saudade quem sente afeto pela cousa recordada. Ocupais na Academia Brasileira de Lêtras a cadeira de que foi fun– dador o paraense José Veríssimo. Que singular coincidência! Que ex– traordinária fôrça essa que une a nossa à , vossa vida! Pela primeira vez na história das associações de cultura do Bra– sil registra-se o acontecimento que hoje vivemos: o do compareci– ménto do presidente da Academia Brasileira de Lêtras, em caráter oficial, para presidir a sessão de aniversário da Academia Paraense de Lêtras. o acontecimento vale para maior recompensa que poderia/ aspirar uma comunidade provinciana, afeita às lides culturais, mas desacos– tumada às etiquetas e honrarias desta espécie. Dizia São João Crisóstomo: "Desprezai as riquezas e sereis ricos. Desprezai a glória e sereis gloriosos. Desprezai os males dos inimigos, e então havereis de vencê-los. Desprezai o descanço, e então o ,encon– trareis". E o que desprezamos nós? Até então a glória, para encontrá-la hoje nesta noite, em que comemoramos o 56. 0 aniversário da Acade– mia Paraense de Lêtras, com a vossa presença, nesta casa, na qualida– de de embaixador da cultura brasileira, senhor acadêmico Peregrino Júnior. o
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