Revista da Academia Paraense de Letras 1957

til . ,. REv"ISTA l>A ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 31 Viveu vida intensa, festiva, gloriosa, até 1937. Em 1940, dizem os c ronistas, des!)ertou a Academia -:- "do letargo habitual". Há dez anos, desde 1946, o Silogeu tem tido existência movimen– tada, rútila, brilhante, liderando a vida espiritual do Pará, estimul~n– <lo os moços, distribuindo prêmios aos vencedores cj,os concursos lite– rários que promove anualmente, dando vida e esplendor aos certames da inteligência, com isso valorizando a cultura e aprimorando as ten– dências daquêles que se dedicam ao·cultivo das lêtras e das artes. Eis aí, senhor acadêmico Peregrino Júnior, o que tem sido a Aca– demia Paraense de Lêtras, nestes 56 anos de existência. Aí está, em– bora palidamente exposta, a trajetória dos nossos homens de lêtras, dos nossos cronistas, desde aquêle singelo André Pereira, o primeiro a dar para o reino notícias desta terra, aos poetas e escritores que abrigados à sombra do Silogeu, ou fóra dêle, dão ao Brasil, com a elo– qüência e a grandeza que são apanágio da Amazônia, as páginas que estão sendo escritas para com élas formar o tômo monumental da His– tória da Literatura Brasileira. Falei de inicio, na contribuição dada à cultura regionalista pelos que se filiaram.à escola sertaneja. No vosso discurso de posse, senhor acadêmico Peregrino Júnior, en– , contrei, para satisfação minha, a identidade destes conceitos. São vossas estas palavras: " . .. A verdade, porém, em última análise, é que foram os escritores regionalistas - com as suas pesquisas de fala, costume e usos, com as suas descrições da selva e do caboclo, com as suas evocações do panorama e da vida da planície - que vencendo as dimensões ilimitadas das distâncias e as difi– culdades desencorajadoras das lentas comunicações, incorpora– ram a Amazônia ao coração do Brasil, ensinando o nosso povo a amar, sentir e compreender aquele mundo telúrico de rique– zas e espantos, de medos e belezas sem medida, que era então para o resto do país uma simples abstração geográfica. Foi a literatura regional que, arrancando a Amazônia do esquecimento e do silêncio, descobriu-a, restituindo-a ao Bra– sil. Essa a contribuição do regionalismo ao milagre da unidade brasileira". A simples confissão desta verdade revelava o vosso amôr às tra– dições literárias da região, onde revelastes os pendores e a cultura, que dariam mais tarde, a Manoel Bandeira, oportunidade para dizer, naquele memorável dia 25 de julho de 1946, que assinala o vosso in– gresso na Academia Brasileira de Lêtras: "Viajastes na Amazônia recolhendo em cadernos vasto material paisagistíco e humano, que mais tarde iríeis tramar na urdidura dos vossos contos". · E déstes ao Brasil, através de obras magníficas de observação, as páginas memoráveis de "PUSSANGA", de "MATUPA", de "HIS– TORIAS DA AMAZôNIA", revelando os personagens e os aspectos peculiares desta Amazônia que já viveu de uma tradição falsa - a das lendas e do Inferno Verde - e hoje trabalha, produz, se agigan, ta para ser o que realmente é: a promessa vigorosa de uma éra de absoluta grandeza e realizações. O vosso encoi;itro com o Pará, quando para aqui viestes estudar no Ginásio Pais de Carvalho, foi mais o de um amigo, que de um curioso.

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