Revista da Academia Paraense de Letras 1957

\ REVISTA DA Ac~EMIA PARAENSE DE LETRAS 29 Eram assim os poetas paraenses daquêle segundo quartel do sé– ~ulo XIX. Expontâneos. Inspirados. Maviosos. A desmentir aquêle -conceito de Paulino de Brito de que - " não somos literáriamente ,icos", mas, sim, consideràvelmente esquecidos. E cito aqui um exemplo digno de meditação e análise. No dia 24 de junho de 1890, "A Província do Pará", publicou uma poesia de um poeta paraense que, apenas, se identificava com uma letra C. Tinha por título - NOITE DE NOIVADO. - Não resisto à ten- tação de transcrevê-la: "Quando a noite chegou, - noite d'encanto! Afastada de mim, Disse-me então: "Porque te acercas tanto? Eu tenho medo de te ver assim!" Mas quando o sol anunciava o dia, Enleiando-me ao seio de marfim, - "O' não te afaste tanto!" me dizia, "Se tu foges amôr! pobre de mim!" E aqui vai a revelação sensacional, que tanto escandalizou os ho– mens daquêle tempo. Informava o mesmo diário, sob a responsabili– dade da sua tradição, que Campoamor havia plagiado est a poesia de um modesto poeta paraen se, tão modesto que se acobertava a me– do, sob a sombra de um oobrezinho C. Quem era êsse ooet â ? Não foi possíve( identificá-lo. Apenas, como os colibris, viera e b eijara a flôr que para êle est endera as suas petalas e continuara revoando, indefinidamente, à procura do mel com que se enebriav~, Romancistas, historiadores, crônistas, poetas, nós sempre os ti- vemos, capazes de firmarem as mais belas páginas de todos os tempos. Associacões da cultura medraram, tomaram vulto e se identifi– caram no Íno.vimento espiritual que agitou o Pará, após a criaç~o da imprensa e da montagem das tipografias, o que ocorreu depois do movimento emancipador de 1823. A MINA LITERARIA, cujo aparecimento em Belém, foi registrado no jornal "O PAIZ", da capital da República, na edição de 24. de Março de 1895, tinha uma organização singula r. . Segundo os esclarecimentos de Eustáquio de Azevedo, o presi– dente da MINA - "tinha o nome de MESTRE ; o vice-presidente, CONTRA-MESTRE; os secretários CHEFES DE T URM A ; o tesou– reiro, GUARDA DAS FERRAMENTAS; o bibliotecário, GUARDA DOS MINEIRAIS; os demais sócios, MINEIROS" . MINEIRO HONORARIO era o título conferido - "às autodidades literárias do país". Os livros "eram chamados PRANCHAS, as Atas, LAMINAS e o edifício onde funcionava a sociedade recebia o nome de PôÇO. Os meses eram marcados pelas ferrámentas, e começavam de MARTELO, janeiro, terminando em AUREA PICARETA, dezem– bro". MINADOR era o que chamamos de Estatutos. Começou a MINA LITERARIA á sua vida oficial com a sessão solene de inst.alação, no dia 1.º de janeiro de 1895. Como consequência da vida ativa e labo– riosa da MINA, apareceram no Estado outras associações de Lêtras. Citamos entre as demais, estas: a ORDEM E PROGRESSO, o CEN-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0