Revista da Academia Paraense de Letras 1957
I REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 2'7 Saudação , ao Dr. Peregrino Junior iNTEGRA DO DISCURSO DO ACAD~ICO .ERNESTO CRUZ. Na sessão solene de 3 de maio de 1956, ·comemorativa do 56. 0 anl• versãrio de fundação da Academia Paraense de Letras, foi orador oficial da noite, por designação de seus pares, o acadêmico Ernesto Horácio da ·cruz, que pronunciou, em saudação ao escritor Peregrino .Júnior, -0 .seguinte brühan'te discurso~ Meus senhores. Minhas senhoras. Quando por devâneio ou curiosidade, rebuscamos nos Anais da história Uterària do Parà, as lilrigens das associações de letras que em Belém viveram, não podemos esquecer, no cenário colonial do século XVII, os primeiros cronistas da época. · Quem foram êles? Indiscutivelmente cabe a Andre Pereira, ~s glórias de haver, ini• cialmente revelado, numa narrativa singela e curiosa, sem os atavios da linguagem, mas excessivamente simples, o que havia no grande rio das Amazonas. · André Pereira foi companheiro de Francisco Caldeira de Castelo Branco na viagem do Pará. Coube-lhe a narrativa dos acontecimen– tos. A descrição da- jornada. A revelação da ct>nquista. Sem esquece_r os detalhes geográficos. O estudo da terra e dos seus habitantes. O contato com o gentio, de que resultarla o conhecimento mais amplo, de como agiam os invasores holandeses nos seus Engenhos de açúcat. Fez-se, deste modo, André Pereira, o primeiro cronista do Parà. Vem depois, com as suas cartas maravilhosas o iluminado padre Antônio Vieira. Vamos encontrar nas missivas de Vieira aos grandes do reino, ao procurador do Maranhão e ao próprio Rei, detalhes interessantíssimos da vida social, política e econômica da capitania paraense, no seú primeiro meio século de vida. Assim dizia o eminente pregador, ao monarca português, numa carta datada de 4 de Abril de 1654: "Aqui há homens de bôa qualidade que podem governãt com mais notícia e também com mais temor; e ainda que tratem do sell interesse, sempre será com muito maior moderação, e tudo o quê granjearem ficará na terra, com o que ela se irá aumentando; e se desfrutarem a herdade, será como donos e não como rendeiros, que e o que fazem os que vem de Portugal". Essa é a primeira descrição que se conhece do ambiente em que viviam os moradores de Belém, naquela época. Depois de André Pereira, nos dias iniciais da conquista, somente o padre Antônio Vieira, cêrca de quatro decênios mais tarde, reve– lava-se o narrador que toda a côrte apreciava, traçando com mão firme, nas suas cartas, o caráter e as subtilezas do colôno, do índio, dos administradores e dos seus próprios companheiros de missão re– ligiosa. Esqueceu-se Eustáquio de Azevedo de mencionar êstes dois no– mes na relação dos cronistas coloniais, quando escreveu as primeiras páginas da sua valiosa "HISTORIA DA LITERATURA PARAENSE".
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