Revista da Academia Paraense de Letras 1957
f 1 .f 1 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 25 Vinde Vê ·- ·Ia de ADALCINDA Do alto desta montanha onde se despe o vento, comtemplo a tel11'a ideal, do maior pensamento: a Amazônia, a Amazônia, esta amada Amazônia que do mundo -é o refugio, o futuro, a insônia! Vinde olhar! Vinde ver do Itauajuri como a terra niais ,nova é tão velhinha aqui nas pe·dras, onde rolam seixos ,informando que há milenios, no tempo, ela vinha marchando. Vende ver como viajam tristes, pensativas, as garças sobre as ilhas flutuantes e esquivas. Dos seus campos em flôr sóbe cheiro 'das tabas que habitaram formosas indias icamiabas... Da ma.ta se levanta o monstruoso apuiseiro, simbolisando a força do homem brasileiro contra aquele que vier de estranhos meridianos deshonrar o seu lar de quatrocentos anos. Vinde vê-la daqui. Seus bancos e baixios, restingas e canais, igarapés e rios, contam da terra arúíbia a verdadeira história que os ventos vão levando aos mundos sem memória! Vinde olhar! vinde ver, mocidade do instante, na terra que aflorou serena e verdeljante, as rochas e as camadas paleozoicas da era em que todo o Universo andava sempre à espera... E a terra veio, emfim, do Oriente boiando, e nômade ficou a vagar, meditando, no destino infeliz do povo que é também nômade como o peixe e a água gue vai e vem! Do cimo desta serra onde repontam fosseis, vinde ver o rio-mar, em cu.,~ margem. dóceis, os tapuios mariscam, pescam noite e "dia, filosofando ao luar, na bruma da poesia dos aliseos que veem numa escada prateada pulando sobre o mar da Boiuna encantada! Nas quebradas e além, nos rochedos desertos, onde a urze cochila e o cátos põem abertos os dedos a ferir quem apanha-los vai, o caboclo prevê pela fruta que cai, pela casca dos paus, pelo verde da planta o equinócio que muito próximo levanta.
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