Revista da Academia Paraense de Letras 1957
li V 1' 9 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 21- dência de GEoRGENOR FRANCO Embaralhou as cartas, fez o sinal da cruz, deitou os naipes à mesa e me falou: "Vida atribulada ... sonhos muito róseos com desfechos brutais e fins nunca pensados. Iguais aos epílogos dos sonhos· de rapaz. Lágrimas... Luto... Aflição... Muita tristeza. .• Quanta coisa com a côr da mágoa e da saudade! Sua vida... Ah! quando chegar a vez do a.mor ., . '' Pediu-me as mãos. Concentrou-se um instante : "Uma mulher. Outra. Quantas mulheres passam. . • Aqui está, porém,· a dona do destino. Cada homeui tem a sua, ninguém foge à verdade. Mas não se iluda com felicidade ... Tôda as mulheres são iguais em suas vontades . Tem os olhos profundos - dois abismos. Um corpo bem talhado, busto encantador, lábios róseos, mãos perfeitas, grande coração. E' ela, meu amigo. Gosta de você. E você? Ora, se é a dona do destino ... O homem nunca imagina a mulher que há de ser sua Ela gosta de você . Muito; de verdade. Mas as mulheres são assim: na ânsia louca da felicidade - que é tão pequena na imensidade dos egoísmos - renunciam ao amor e esquecem o seu destino. Grandes sonhos. Sonhos que nunca se sonh2.ram. Uma casa, o amor, o riso, o chôro da criança, o lar que se ambiciona, que é tôda a nossa vida, Beijos, alegrias , um filho e a mulher. Êste o sonho doirado, o sonho iluminado de todos os homens bons, de todos os homens maus" • Soltou minha mão . Olhou-me bem nos olhos: 1 'Viva. O ~mor é uma mentira nascida da verdade E' um. bem que desgraça, nunca a dôr que desespera , Deveria ser, mas nunca foi, felicidade . Viva . Fugir ao imperativo das emoções e aos grandes anseios -dos sentimentos nuüt>res não é possível . Por isso ame, meu amigo ,ame. mas não se iluda com felicidade" . . . • N. R. - ll:ste poema foi declamado na festa de 4 de ma io, no Teatro da Paz, pela senhorinha Maria de Nazaré Coeli Vascon– celos, do Conservatório de Belas Artes do Pará .
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