Revista da Academia Paraense de Letras 1957

REVISTA DA ACADEMIA' PARAENSE ·DE LETRAS 11 olhar silenciosamente para as outras· criaturas com uma certeza nos olhos: uma certeza que nos contagia mas que continuamos aparen– temente a ignorar, tanto é grave esse reconhecimento da noite!". "Mas tarde, já trabalhado pela pre-ciência da morte, que lhe rondava os passos, tossindo com frequência e a revelar a angúst_ia da enfermidade que o levaria ao túmulo, Lucidio escrevia a "Cançao do Coveiro", como se a sua musa lhe antecipasse o dest~o, at!·avés de composições denunciadoras da vocação para a morte, vocaçao que o aproxima de Alfonsus Guimarães· e Augusto dos Anjos, na ternura e no lirismo, estes versos, publicados em "Guajarina": "Meu maior amigo é o Sino que canta no cemitério. Plantar gente é meu destino, É meu destino um mistério. E, finalizando: "Trabalho desde menino Sob este sol que me cobre Trabalho que é meu destino Trabalhar para ser pobre". "Pertencendo ao grupo de Da Costa e Silva, Zito Batista, Jonas da Silva, Celso Pinheiro, Lucidio cantou o ParÍlaiba, rio dos poetas de sua geração, e a sua cidade, Teresina, consagrando-lhe um lindo soneto em que exprime a saudade de deixá-la: "Tereslna sumiu-se na distância". "Os versos com que Lucidio abre o "Vida Obscura" são a expres– são nítida da sua cultura, da sua sensibilidade e da sua filosofia: "A tarde fria desperta sensações fundas de nostalgia em minha alma notâmbula e esquecida E eu fecho os olhos para ver a vida A vida, esta ânsia doida e desconforme, este livro medonho que, eu de tanto reler, já sei de cór. A vida é uma saudade que não dorme, é um sonho, um grande sonho, eterno sonho, um deseJo aspirando um desejo maior". 1!:ste o Poeta cujo elogio me cabia fazer nesta noite. Devo confes~ sar, porém, que não se pode preservar por muito tempo o espírito crítico diante dêste Poeta: êle nos envolve, subjiUga e perturba com o sortilégio do seu lirismo e também com a lembrança, tão grata, do sortilégio da_sua sing;u~ar perso~alidade, da sua simpatia pessoa~. da sua irradiaçao magnet1ca, da doce magia da sua bondade. A mmha geração o conheceu, acu:nt-rou e amou, e eu hoje aqui deponho sôbre o seu nome e a sua memoria a grinalda da minha gratidão literária. É com alegria que verifico, Senhores Acadêmicos nesta hora de efusão e cordialidade, que dentro da nossa comunhão espiritual, na •

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