Revista da Academia Paraense de Letras 1957
o REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 9 "Em vez, porém, de gritares as nossas necessidades como o Alcides, falas de música... "E desta arte magnífica entendes tanto como êsse bonito rapaz, meu vizinho, entende dó Confúcio. .. · "Lendo o teu lindo artigo, lembrei-me do João Ribeiro que nos conta nas "Paginas de Estética", a propósito de crônica musical, _o se– gµinte fato que tãq_bem se adapta a ti, ó meu incorrigível e talentoso amigo: · · · ..O sr. E. da Veiga, autor do Primeiro Reinado, escreveu um livro sôbre fotog-rafias ou ouvertures de óperas, e na ocasião aleg\>u que, não sabendo música nem de outiva, por isso mesmo era imparcial, por não ser nem por Wagner nem por G. Verdi, nem pelos alemães nem pelos italianos". "Lendo-te, esperei a mesma confissão. Não a fizeste" . Era assim a prosa de Lucidio. Era assim a sua atitude literári8:, - corajosa, franca, desabusada e lúcida . Era assim, em suma, o Para d'aqueles velhos bons tempos. Todos vivíamos afinal para a literatu_ra : Hamilton Barata fundava o Cenáculo dos Novos· Oswaldo Onco, Martins Napoleão~Enêida e eu fundavamos a "Gu'ajarina". Litera– tura - e só literatura. Oswaldo Orico evocando comovidamente O poeta, dá-nos de Lucidio um pe~fil exato e vivo: "Por. êsse tempo conheci um jove~ mestre - esp1nto metropolitano extraviado na província-. que d~v~a exercer uma grande influência em minha formação hterária: Lucidio Freitas. Era ~a criatura doce, acolhedora, com uns grandes o~hos de porcelan~ boiando na cabe_Ça loira. Vivera no Rio, onde ens~iara o voo . Sobrmho de Dona Amélia e Clovis Bevilacqua, fôra por estes int_roduzido !JOS meios lite_rários da metrópole. Frequentara a ~asa d7 Coelh<? ~eto e correspondia-se com muitas figuras ilustres do Br~ il, mas t~1do, <;1esco!1flado, guardava tôdas as cartas de introd"!-1çao a empreg?s e _situa_çoe~ vantaJosas, preferindo conservar os autografos dos _amigos a desilusao que lhe dariam os destinatários das recomen– daçoes". . Com que s~cret? orgulho mostrava a coleção de cartas que pos– sui~, e nas _quais Coelho Neto, Clóvis, Alberto de Oliveira, Pedro Lessa, Alcides J\:1iaia e outros pleiteavam para êle um pôsto na imprensa, na buz:ocracia ou na mai1stratura! Em vez de expor-se e de ~xpor os amigos a uma decepçao, preferia conservar os documentos epistolares, a~eitando 1;1m cargo de j?iz no longinquo Estado do Norte, q_ue lhe fora of~recid~, sem que fosse necessá rio rógá-lo . Ei-lo ali, entao, en– tregue a magistratura, d~vidindo seu tempo entre os autos ~ ?S versos, com vagares pa_ra conquistar ainda a cátedra de direito civil na Fa- culdade do Para. . "Casara-se _com_ a filha de um grande advogado do meio, o .Dr· Amazonas de Figueiredo, meu antigo professor de direito romano na mesma Faculdade, homem que gozava do privilégio de dizer 9 n:ienor , número de pal~vras no m8:ior espaço de tempo. com a supenondade que o caracterizava, Luc_idio deixava resvalar à sua porta -º~ ataques e criticas que se lhe faziam, emprestando ao Pará O prest1g10 ~e s~u talento e de sua experiência literá ria ~se casamento e a publlca;,çao do livro de Lucidio, "Vida Obscura" encheram durante muitos m.e5Js as colunas dos jornais de Belém: o 'primeiro, por se h~v~r anuncia ~ que, no momento de comungar para o matrimônio, Luc1dio ~av~.ª ?~i pido a hóstia; e o _s~gun_do, porque um poeta da "escola _antiga , ;;,e~ na fôrma da metnfl~açao e do compasso, 0 velho Eustaq_uio de a– vêdo, iniciou contra ele um folhetl111 tendente a provar, todas as m
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