Revista da Academia Paraense de Letras 1957

b li.:: REVISTA: DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 7 estava eu, quieto e calado, no Reservado da Brasileira, para escutar os debates literários de Raimundo Morais e Lucidio, de Tito Franco e Dejard, de Angione e Severino. Que revelações! e que deslumbramen– tos! E quando as estrêlas claras floresciam na ternura da noite pa– raense, caminhando no veludo do céu puro com passo manso e silen– cioso, - Oswaldo Orico, Martins Napoleão e eu tomávamos o bonde de S. Jerônimo e íamos, alvoroçados e felizes, para a casa de Lucidio. As tertúlias da casa de Lucidio eram paxa nós uma festa. Varavamos as noites recitando versos e discutindo literatura. Foi na casa de Lucidio que escutámos pela primeira vez os nomes de 'Nietzche e Haeckel, de Verlaine e Baudelaire, de Vaerharen e Rollinat. A pregação incessante de Lucidio era a da renovação literária - ·e essa pregação se impregnava das leituras dos simbolistas franceses e dos filósofos alemães - e soava aos nossos ouvidos como revelação maravilhosa. Lucidio, um autêntico homem contagioso, da classificação de Cocteau, aglutinava em sua volta, não só os jovens da geração novíssi– ma, - Oswaldo, Napoleão e eu, - como também as melhores figuras dos nossos altos círculos intelectuais - Tito Franco, Alves de Souza, Rai~undo ~Jorais, _9-uimarães Bastos, Dejard de Mendonça, An~rade Queiroz, Acilmo Leao, - e fundou a Efemeris! Efemeris, como ja· ob– servei uma vez, foi uma iniciativa afoita e revolucionária até na apresentação tipográfica, original e elegante. E marca sem d'úvi~a um pa.sso antecipador no caminho da revolução modernista no Brasil. Foi um 1?10Vimento pi~neiro, avançado, precursor! o poeta em Lucidio e~·a, I?_Orem, o .qu~ mais n_os encantava. Êle possuia, para nós, a fa~– cmaçao .e o misterio das ilhas fabulosas: era único e era incompara– v~l._ Seria talvez_ ~fícil situ~-lo no panorama da nossa história lite– rana. Ma~ a~lnura-lo era fa~il e era inevitável. Que sortilégio o da sua melodia mterior e tambem como eram sutis as graças da sua simpatia pesso~l! As emoções que nos frequentavam a alma naquele tempo eram afms e nos identificavam na fusão maravilhosa do mes– mo ideal .Nunca houve, na área afetiva da nossa amizade espaços yazios ~e il:compreen~ão ou zonas neutras de indiferença. É que nossa identificaçao com a literatura era total. Fora dela não tinhamas ou– tro~ P!oblemas nem outr8:s. ambições. Lucidio respondia a todas as curiosidades do nosso esp1nto com a bondade do companheiro e a lucidez do mestre. O itinerário do Poeta foi curto, mas iluminado. Nasceu no Piauí, formou-se no Rio - veio muito jovem mal terminou o curso de Direito, para Belém, onde foi nomeado j~iz e se casou. Aqui realizou pràticamente toda a sua vida literária. Bela nobre harmoniosa e curta vida, a que viveu êste poeta de voz livr~ e com'ovida! No Bra– sil são num~ro~os os escritores cuja personalidade supera em Impor– tância a propna obra: homens de obra pequena ou modesta, mas de larga influência pessoal. Lucidio pertencia a esta privilegiada cate~o– ria humana. Embora sua obra fosse pequena, ainda que significativa, sua personalidade era poderosa e irradiante. Com Lucidio, veio ao Pará um sopro de renovação e entusiasmo, que nos rejuvenesceu. Ele não era apenas poeta:_ era também um fino prosador e UJ'.!1 critico sutil . Sua colaboraçao na imprensa do tempo foi das 1:1!:1s interessantes . Ainda recordo_ o belo ensaio que publicou sôbre a _V'is~o Panteísta, de Ildefonso Falcao, em que definia sua orientação bt~ra– ria, e o artigo sôbre o Umbral de Rosas, de Albano Vieira. Nos ~.rt~g_?s que publicou sôbre o "Umbral de rosas''., de Albano Vieira, e a V1sao Panteísta", de Ildefonso Falcão, fixou efetivamente Lucidio com Jilllll--------~--1 e;IBLIOTECA PUBLH, ,, U P Ali À ileção de Ob ra s d o 1' H á .\ _

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