Revista da Academia Paraense de Letras 1957

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS nos epsina algo de novo e nos induz a uma nova virtude, segundo Ortega y Gasset. A paisagem educa melhor que o mais hábil peda– gogo. Pois esta paisagem de Belém, bela e verde com suas man– gueiras, seus horizontes lineares e calmos, - o rio imenso espelhando o Céu, e a Natureza, 'brava e virgem, entrando, pelas casas a dentro, me ensinou o sentido da duração e da eternidade, devolvendo-me ao espírito ,com a confiança e a esperança no nosso destino, a alegria de olhar de frente para o Futuro. Nunca mais me esquecerei Das velas encarnadas Verdes Azúis Da Doca do Ver-o-Pêso Nunca mais. Eu também me consolei com a cantiga de Manuel Bandeira: Bebelelém Viva Belém . ·Nortista gostosa Eu te quero bem. A minha vida desde então, em Belém, à sombra sempre de gran– des mestres e grandes companheiros, na Fôlha, com Paulo Maranhão; na A Rua, com Severino Silva; na A Tarde, com Raimundo Morais; na Semana e na Guajarina, com Orico, Napoleão e Enêida, foi um exercício permanente e deliberado da vontade a serviço de um ideal: o ideal de ser um dia alguém, de ascender da humilde obscuridade para a vitória, e dela recolhi pelo menos algumas lições úteis: a dis– ciplina do trabalho, o amor do estudo, a paixão lúdica das lêtras. E com essas três poderosas armas, aqui forjei o meu caráter e o meu espírito - e por que não dize-lo - o meu Destino! Três amigos inseparáveis viveram dias inquietos, pobres, mas por isso mesmo felizes, nesta Terra: Oswaldo Orico, Martins Napoleão e eu . Oswaldo nas suas memórias admiráveis já evocou êsses dias - os dias do Ginásio Paes de carvalho, os dias ásperos de reporter da Fôlha do Norte, os dias da Semana e da Guajarina, e evocando-os fez a h!stória de uma geração e de uma jornada. A Cadeira n. 13, para a qual me elegestes, tem como Patrono um poeta : Lucidio Freitas. Como fostes generosos e avisados escolhendo para mim, na vossa ilustre companhia, a Cadeira de Lucidió Freitas! Foi um poeta que muito conheci, admirei e amei. Como o herói de Racine, Antiochius, Lucidio era um amigo que nos falava do coração. ~s do que isto : falava-nos também da inteligência - e isto nos encantava. Conheci Lucidio, logo no ano em que cheguei a Belém, na A Brasileira - uma confeita·ria da rua Conselheiro João Alfredo. Con– duzido pela mão amiga .de Angione Costa - o primeiro e o melhor amigo que tive no Pará e na vida, e que não recordo sem uma como– vida saudade - fui uma tarde tomar chôpe no Reservado da A Bra– sileira, ali na ·rua Conselheiro João Alfredo . E ai então o provinciano tímido e melancólico que eu era, conheceu, entre perturbado e con– tente, algumas das figuras mais prestigiosas da vida intelectual para– ense daquele tempo: Tito Franco de Almeida, Raimundo Morais,_ De– jard de Mendonça, Lucidio Freitas, Albano Vieira, Severino S~lva. Ficamos amigos. E eu passei desde logo a frenquentar ass1dua mente a roda ilustre. Todas as tardes, às 4 horas, após a sesta, lá •

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0