Revista da Academia Paraense de Letras 1955

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 97 deve ser p ersegufdo, lifSO é lÁble. d~ sect árto, pois os cultos da cruz e da !!<:,a se equivalem perfelte.mel'.\te. É questão de crêr I E An tôll.\O Torres era religioso l . DR. PINTO LO~O - Eu sei disso . ·E António ·Torres tem razão .. Mas é . que aqui não se tra ta de religião. Observe Hem. Trata -se aqui, pelo, contrarlo, a te de !t nercssan tíssima ausência de religião 1 DR. LUIZ RAUL - Pois é Isso mesmo Religião é só a nossn I A dos outros. em regra, não é relli,lão ! DR. PINTO LOBO - Mas você e.Inda não m e entendeu. Digo que não s e trata aqui de religião pois nem ao menos do cham ado milagre religioso. da m a– gia, do sorttléglo, cogita-se aqui. Nem ao m enos há aqui o exercício lle~al de medicina em regra tão lnseparàvel das religiões ! DR. LUIZ RAUL - Pois era exatamente pa ra êsse fato que e\l la chama r– lhes a atenção 1 DR. QIN'FO LOBO - Eu percebi logo que você la fazê-lo. Allàs, foi fato observado por mim, desde logo, acredite-me . Entretanto. não se surpreenda se eu lhe disser que é precisamente nêle que me base!o pa ra pedir, como médico legista. o Internamento de sua constituinte no hospício. DR. LUIZ RAUL - Como assim? ll: um contrassenso! DR. PINTO LOBO - Parece, com efeito, um contrassenso. Mas, não é . Eu lhe explico. Joana efetivamente não se Inculca de curandeira ; não prescreve, nem ministra ou sequerr aplica qualquer droga; não dá pa.sses, n ão formula diagnós– ticos nem anuncia, charlatanescnm ente, curas insensa t as . . DR. liUIZ RAUL - Pelo contrário! DR. LINTO LOBO - Sim . Você diz bem ! Pelo cont rário! Ela tem oté, como se costuma afirmar, decepcionado, a êsse respeito, a clien tela. Você sabe disso. E penso que você também, meu êaro dr. Xa vier Vale (volta-se para o dr. Xavier Vale que se mantém solenemente em silêncio) . DR. XAVIER VALE - Não! Eu não estou bem a par. T enho ouvido apenas murmurações. DR . PINTO LOBO - Pois bem. Joana n ão se entrega, com efeito, ao cura n– deirismo. Quando ela apareceu, nas condições Já nossas conhecidas, condições que, para espíritos menos avisados, pareceriam , efetivam en te sobrenaturais, es– palhou-se pela cidade a fama de que a mocinha encont rada nns cercanias de Marapanlm. residente nesta vila e h á sete a nos t ida, pelos seus, como m or ta, era alguém dotada de faculdades excepcionais e p oderes surpreenden tes de cura dos outros, melhoria de vida e até de ressurreição I Como era de supõr, do dia para a noite, esta vila e seus arredores. encheram-se de uma multidão sofredora e ávida, uma população rumorosa e lntra nqulla, composta de mulheres desnutri– das e exigentes, crianças escrorulosas e gritadoras, homens m ais 'sequiosos d e pão que de fé I Joana passou a denominar-se, pa ra o grosso público, de Joana da B:irc:i. e, até da a.venlda São Jerônimo, o nosso bairro chique, descia gente, que m ora em palacete, para vir atolar-se nesta lama e escorregar nestas pontes ! Foi qua ndo ocorreu a coisa Imprevista e espantosa ! Joana da Barca, em fala que fez ao povo, declarou que não vinha _curar ninguém , nem melhora r de vida ninguém, nem tão pouco ressuscitar nlnguem ! Não é, porta nto, cura ndeira ! Não acha o m eu caro colega. dr. Xavie r Vale ? nn. XAVIER VALE (s0Jcn e 1 - Sim. Sim . s e ria nfi rmo~ q uo u,io c u ra , e, de fato, cumpre o que allrmou, lato ó. efct1,·a1w,n t c u11o c ura, nao é, real– men te, cura ndeira ! DR. LUIZ RAUL - E en tão ? Por que a pr lsl!.o, o hospício ? DR . PINTO LOBO - Mas, exa tamente p or Isso I Porque n ão é ela simples curandeira. É cousa. multo plór I Porque n ão velo ela curar n1J1guém , nem me- 1110rar a vida de ninguém , n em tão pouco ressuscitar ningu ém ! Mas velo 1azer cousa mil vezes plór ! Velo pregar a morte de todo~ ! DR. LUIZ RAUL - A morte de todos ? DR . PINTO LOBO - Sim. E então ? Velo preconizar os beneficlos, as van– tagens de um suicídio geral, puro principio "schopenha uerla no" de ellmlnljçáo coletiva.. Que é Malapdeua, n ão me dirá o meu caro dr. Luiz Ra ul ? Onde fica localizada Mnlandeua? No fundo do mar. Pelo m en os é se atira ndo dentro dágua que a gen te vai a êsse reino, consoan te o exemplo da própria Joan a . Mas que fôsse uma cidade não submersa, é sempre nada ndo que o cristão a t em que alcançar. Os caminho~ do céu foram sempre de dôr . E quem é capaz de arrostnr a tra vessia, e não só de arrost á-la, de resisti-la? Não Ignora, dr . R aul, q ue até n êsse respeito j á espalha ram por a[ ns mais divertidas histórias . En tre outras conta-se que um nosso conbecldo cnpltalli;ta ierla procurado Jonna a !lm de

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