Revista da Academia Paraense de Letras 1955
06 REVISTA D A ACADEMIA P AR.AEiilSE DE LETRAS _ or um dé~Jes mllar:rco bastan te h abltua ic quo ndé:> Trata-se de uma menina que P s Ivo de um ounse certo aiogEµ11enlo, se encont,ram em Jõgo vidas ln'.1~anus ; ~: ! os ta encontr~ sem dúvida mdigenaa, indo dar o uma nossa costa qua q u~. es acabam de criar f:ste o fato . Agora, ~~ ~;: cu~~~::ci~!~~~l~~tt~u: ::i~ ta~:béem~ perfeit amen te n ~tlJTa!s. :ra 1 t:-sc, evl– den te~ ~teLt~\ez u: .:u t n ~ r~fm ~l\ ;:~f ~!çãs: atd~-u~~izci:~~i~~) ·etr : i : t: :. enrcrm~ !ma ina !\o Divertem -me gra n demente essas e,-,,ressões b ombastlcas da clên : 1: qu; n ê.~ n·os dê.o resposta aceitável às lnterrorações, e apenas bat em e~tron– do~amen te com a porta na cara das nossas Interpelações mais cllrE;ta.s ! En erma da Imaginação I ora, enfermo da lmaglnaçê.o é todo o art ista. é todo o lmagi:;i~! ~· é todo O intelectu al ! o Individuo normal , m edíocre. não sente, por assim • a lmaginl!ção. f: com o a pessoa sã do coração, que nlio sente o c_oraç6.o. Enfermo da Imaginação ! Enfermo da lmaglnaç6.o, então eu o sou tambem • DR. PINTO LOBO (sorrindo significativamente) - Ninguém diz o contrário . DR. LUI Z RAUL (também sor rindo) - Sim. Mas o ptó~ não é Isso. f; que eu sou O doen t e . E enfermo da Imaginação você também o e, como o brilhante Intelectu al que todos nós admiramos. E é o médico ! . DR. P I NTO LOBO (continua ndo a sorrir) - Também não digo o contra.rio . •· n!!.o quanto ao brilhante Intelectual mos •qua n to ao enfermo . E~tretnnto, como médico, eu sei o perigo da minha Imaginação . . . (sorrindo slgnlftcat lvamente) e da dos outros. DR. XAVIER VALE (dlstrnlda e desastradamente) Sim! Sobretudo da dos outros! Nós somos assim 1 (Dr. Luiz Raul ri). DR. PINTO LOBO - Bem. Dizia eu que se trata , no caso em espécie, da existên cia real de um a n áufrasa. possulda,. por uma lmaglnnçlio delirante . A pa – c·cn te Joana, nêsses sete anos vividos longe da fam ilia, esteve apenas numa cnsa_ de cabõclo, e viu com a Imaginação doeutla e deformadora do real, uma cidade encantada, um pais de u topia, onde ou tros, com a Imaginação nbsolutnmente n ormal, n !!.o viriam senão uma casa de ca bôclo ! f: tato perfeitamente e,cpUcàvel. e perfelt am en te explicado pela ciência .' T eremos que convir C!UC, no caso de Joan a, se trata de criatu ra dotada não somente de lma~n açl!.o, Jn por si excepclon nl, mas com essa próptla lmaglnaç!\o Já, por seu turno exacerbada pel0s doen ças en fra – queccdoras, pela mlsérln. pelo desconrõrto. pcln fome, pelas superRtlçóes do mBlo. pelo h orror e atração désse ambiente, ambiente Inquietante de ma rés grandes, ao fluxo e refluxo das quais nasceu e esteve até os 12 anos: enfim. por êsse criminoso, monstruoso. espan toso descaso que o govérno revela pelas nossas po– pulações pobres, relegando-as ao mais completo e deshumano dos desampa ros ! DR. LUIZ RAUL - Isso ! Isso ! Espl(mdldo, doutor 1 DR. XAVIER VALE (curvando-se, sorrindo, o baixando a voz do m odo irón ico) - Meu caro coleg11, cuidado com os perigos de sua lmaglnacao ! DR. PINTO LOBO - Mns Isto nüo ê hnnislnaç 11 o. 6: pur,, obGc1va•;1,u mé– dica I E, lnfellzm ente. é dado elementar de observação ! DR. XAVIER VALE - Eu estou graceJnndo. Sei que, Infelizmente. é assim. Nêste caso, n ão é n imaginação. é a reallc:lnde ciue é efetivamen te exncerbnda ! Drt. LUIZ R IIUL - Bem. Mas então o que -pretendem os nmlgos fa:trr com e~'>" crla t urwlia, 1ulnh~ pocyrc r.nnstltulntc. ouo ,1 r,lrla clcntif1ca tlc vocéa en– t ende por bem chama r, plnturcscamente. tlc ;, pac1cnlc ,Jo,•n a '/ DR LI NTO LOBO t norrlntlo) --...É o que o Jmodcienle ad,·o;-;ado ctr. Luiz R:iul Já vai sabt'r (noutro toml. Em primeiro 1u~a r, ·cumpre-n os recolher Joan a lmectlatamente ao h osplclo . Nfio acha o meu caro colega, dr. x a vier Vale? (Volta– sc para o dr. Xa vier Vale). DR. XAVIER VALE - Sim . Parece-me medida perfeitameu te accr tadl\ " oportuna. Nem de outro modo l)Oderla ser feita a observaç!lo. DR. LOI ZRAOL - M as, porque recolhê-ln ao h osplclo? Por que? Em n omo do qu em. ou do que? Em nome da rt'hgião? Em nome da ciência? DR. P INTO LOBO - Em nome elo Estado ! DR. LUIZ RAUL - Mas o Estado não é religioso 1 DR. PINTO LOBO - Não se trnta de religião 1 DR. LUI Z RAUL - Você conhece nquel!, ndmlrá vcl pái,:lna de Antôulo Tor– res, q ue vem em um dos livros d éssc Jornalista, e onde (!le a.t aca, como Injusta, a p r isão de cer tn mu lher, que ndornva uma figa, pelo rato de adorar essa figa ! ora. diz êle. o Estado não tem rell!llão oficial, 8 1 tolera c•ue nós ou tros adoremos uma cruz, núo pode ltnpcdlr q ue qualquer pobre mulher be prostcn1c dian te de uma figa. Isso de d :~r que o culto a umn fl:ra e um culto inlerlor, e como tal - c;n
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