Revista da Academia Paraense de Letras 1955
itE1/rSTA DA ACADEMIA PARAEN'SE DE LETRAS Matriculei-me, em seguida, no Liceu da provincia . Lá, na vizinhança ime– diata de Camilo Salgado e Barroso Rebelo, recebia as lições de vários mestres. As de português, com o dr. Américo Santa Rosa, que, apesar de capenga, cli– nicava a cavalo, guapamente num burro, lesto e experi~entado no roteiro, e as de latim, com o médico baiano Justo Ribeiro, debaixo de cuja, cadeira magistral, acendíamos, quando estava prestes a entra r na sala, bombas inofensivas de São João, p2-ra afugentá-lo da aula , nos dias em que desejávamos saquear o t amarin– deiro da praça. Ouvíamos as de matemá tica, apurida ndo-nos brejeirices, dos lá– bios descorados do professor João Câ ncio Batista Pinto. Era um homem plácido e malacafento, amarelo como cê ra velha da sala dos milagres da BasUica de N:1- zaré, armado de lunetas escorregadias, seguras por um nastro pre to, e insufi– cientes à visão perfeita . As suas ca ta ratas progressivas não lhe permitiam ler as espantosas chocarrices que os estudantes escre viam n a lousa, quando ditava os problemas de Serrasqueiro. A arte de ensinar cria nças seduzia-me, como outrora a profissão de em– barcadiço. Inscrevi-me num concurso de escolas eleme nt ares . Fui aprovado e iniciei a minha nova atividade, que seria a penúltima na panóplia das armas in– cruentas contra o desemprêgo, em sitio longínquo do Salgado, por denominação Quitéria, no municlplo de Viseu. Foi ai que conheci Mariano Antunes, futuro chefe de Policia no govêrno Dionísio Bentes e magistrado depois . Comprava suinos, trabucando nas praias do Maranhão e nos sítios ribeiri– nhos do Gurupi, e vinha me rcá-los em Belém. J á fizera um ano de Direito no Recife. No dia em que cheguei ao p õr to, de onde tinha que percorrer, ora no lombo, ora no cachaço de pacifico boi de canga, ao lé u da marc ha do anima l, duas estiradas léguas, a fim de a tingir o meu destino, a,guardavam transporte para o cemitério dois cadáveres . O do ta berneiro do sitio, que se precipitara da rede, a rmada sôbre o ba,lcão, ao arrumar, na azáfama de um sonho trágico, as prate– leiras da bodega, e o outro, de jovem Casanova, pilhado no ato em que bicava um fruto proibido. O marido, retornando de viagem imaginá ria, cosera-o e esfu– racara-o a facadas, nos braços da mulher adúltera, que escapara, da morte, fugin– do, em fraldas, para o mato. Foi após es te panorama horrüico que empunhei, com magis tralidade e es– cassa suficiência, a fé rula do pedagogo, ministra ndo a "lição inaugural" aos curu– mins do povoado. Ainda era adolescente, pois que contava 19 anos. Como socorro aos minguados proventos da função escolar , que eram apenas de 66$666 mensais, com o d esconto de 10%, fiz ciente aos moradores de "Quité– ria" que aceitaria alunos particulares. O único que me aparece u foi uma gar ota maranhense, aloucadinha, bonita e faceira, de olhos inqualificã veis, e arrulhos de pa tativa na voz . Ria-se por dá cá aquela palha. Tinha dentes miúdos e iguais, bem cuida– dos, e mostrava-os com desva necimento e garridice. Pautava a s ua existência de 16 a nos, seguindo a regra do higienista: "a alegria. é o remédio de Deus". Incompatibilizei-me com su:i familia, cheia de prosáp ia e dinheir~ em pou– co mnis de qua tro meses. O pai era come rciante de estivas, bem sazonado como hoje estou e u, e politico influente do govêrno. Habitava, o préd:o assobradado da povoação e vi– via em discórdia permanente com o chefe do partido oposto, o s r . José Car e– cas • Convizinhos próximos, de bruçados ao peitoril de suas ja nelas, logo que o alvor dn manhã repontava sôbre a localidade, os infatigáve is rix antes, de ce– roulas e torso nú, como tinham saldo da rede, a tassalhavam-se em geringonça , até que as respectivas consortes O$ pusessem para dentro, a fim de en xagua rem n bôca e toqlarem Cijfé. 1 1
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