Revista da Academia Paraense de Letras 1955

• REVISTA DA ACADEt.1fA P AR AENSE DE LETRAS 91 COMADRE NOCA - Depo:s, o que não d isseram quando essa m en~na era cria nça ! Eu cl:!oravn. comadre. chorava pa ra me acaba r t Logo que ela nasceu, " mntio" Manducn velo com as p agellmças déle, dizendo que os "mestres" t inh am pedido a menina; que a menin a não era dêste_ mundo; q ue ha via de t razer u m sinal' rôxo entre os olhos . . . COMADRE COLô - E t rouxe ? COMADRE NôCA - Trouxe . CCilMADRE COLô. - Em . . . Em !. . . Com efeito !. . . COMADRE NôCA - Um vizin ho meu. que ern esotérico. me a firmou que 1\ menina n~ se criava , porque n ascera d ebaixo das vibra ções dum t a l de tatua d ai morte, sei lá t E qua ndo ela teve va ríola, aos t rês a nos.. . COMADRE COLô - Ela teve va ríola ? COMADRE NôCA - Além de tudo quanto foi doen ça lnfant!l : sarampo, escarlat ina, catapórn, papeira, coqueluche. Quando ela t eve var íola , eu pensei que perdia m inha !Ilha ! Chorava, comadre, chorava pa ra me acab ar ! E a f reira do Isolamen to dos varlnlosos ainda me velo d izer q ue ela tinh a u m aspecto de q uem não se criava. e contar que ha via sonhad o com ela , jã mocinha, mas no céu , ,pent eando, com um lindo pente d e prata. os cabelos de Nossa Senhora ! E q ue sorria t••. E q ue sorriso !. .. Um sorr:so de an jo ou de santa !. . . COMADRE COLô - Veja só, comadre !. . . ÓOMADRE NôCA - Depois, q uan do eln já t inha onze anos - o ano passado um espirita - \O presidente daquela "seara•· ond e "seu" Benedito foi tomar " posses") - l'rlé disse que n J bnna p recisava " d esenvolver-se" n o espir itismo por– que s<!líiio 'desencamnvn·• b revemente. Im agine, comá dre, os sustos que eu tenho passado por essa menina 1 COMADRE COLô - Com efeito. comadre ! COMADRE Nô CA - Depois, os sustos que ela próp ria me da va . Alndn "ver– d in h a " a vida d ela era escutar no ch ão, na t erra, no soalho. Tód a gente me d izia que n ão p restava criança a ndar a escu tar n o chão, feito índ io. Foi uma Juta para t irar Joa na d êsse hábito I Mais crescida , aos set e a nos, · tinha uns ataq ues, ficava como morta. Era multo Inteligente ! COMADRE COLô - Não diga era. Era se diz para uma pessoa q ue Já foi ! Deus livre ! Era e é . COMADRE NôOA - Sim. Era e é. Sempre foi. Não é por ser minha filha. Gosta mui to de ler . O estudo é com ela. E principalmen te de estudar cousas d e rellglji.o, e ler histórias de fadas, de feiticeiras, de loblsh omens. T udo Isso é p r a. d elxM' a gen te Impressionada.. No outro dia saiu -se com essa histór ia de Malandeu a. COMADRE COLô - Ma lan deua , comadre ? COMADRE NôCA - Sim. Diz-que uma terra encan tada que fica entre Ma – rapanlm e Maracanã, onde há muitos praias . A senhora nunca ouviu falar nessn terra, comadre ? Eu, me parece que t enho uma Idéia. SI n ão me engano m inha mãe falava nela. GQMADRE OOLô - Eu também Já ouvi fa lar . É cousa do Fundo, comadre. Me lembro agora que mana Lorlana tinha urn com padre que q uando se "atoava" a "toada" que êle ··tirava" talava nessa Mnlandcua. Fala..Vll. num ca valo Alazcua correndo n a areia d e Malnndeua ! COMADRE NôCA - Justamente, comadre ! E não foi o q ue " m ano" Mand uca nos d isse ? Sle levou um bnndão de tempo a cooversar sõbre isso com a J oana• E logo a J oana , comadre. que não dispensa uma conversa dessas t Eu a t é Já ped i ao Manduca q ue d cl,:asse de meter essas cousas na cabeça d a Joa na . J oa na é multo Impressionad a . Snbe o que ela me d isse, nêsse dia, d epois que o tio saiu. coma– dre ? Me disse que queria Ir para essa tal de Malandeua ! COMADRE COLô - Credo, coma dre ! Deus livre ! COMADRE Nô CA - E sabe mais o que ela me disse ontem ? Que sonhou com a tal terra. Que lá não se pnssn fome como aqui, coita dinha ! (suspiro fundo)· COMADRE COLô (com a voz prêSo) - Credo, comadre ! Até o corpo me ar– r epi a tod o ! COMADRE NóCA (profu nda mente comovida ) - Ainda hbJe ela estava sen- tactlnbn no batente da portn, com os olhos perdidos longe, com um livro de escola no ceio. Sabe o que eb eGt UVII fazencto, comadre? Dia-que ,endo, no livro da es– cola, em que direção 1lcava a tal terra . . . COl\i.',DRE o.OLó - Eu , si fôsse u comadre, teria muito cu id ado com esea m enina 1 (G1ltnn, izrlLoe. o m·e-se distintament e: "Arndam I Acnrta m !'' em voz d ~ crlnn ça . Voz cl» IHUlheres - " Caiu n(lgun I V;.I leva,10 pPln rorren tez:i I Cnrrnm ·

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0