Revista da Academia Paraense de Letras 1955

k'EVtS'l'A DA ACAD:t:MIA t'ARAl:lN'$E bE LB'l'I{AS A MINHA ADOLESC E NC1--A PAULO MARANHÃO (Páginas de há cinco anos) F, minha adolescéncia não conheceu o ludib rio dos sonhos em estado c e· vigilia. Nem rasteiros. como seri ?.m os meus, nem elev!\dos. como os de Yolanda 01.urieri- e os do p oeta Mário Carneiro, lá da ba-nda peregrina do Atlântico. Tão pouco ilusões. Por isso mesmo. pude atravessá-la sem que sentisse morder-me o estímulo de nenhuma esperança, ou o colmilho de algum despeito. Trabalhos e dificuldades. canseiras e decepções, isso sim. E. pelo resto da vida. Se não temesse morrer de nada, como sucede, ordiná riame nte. a.os velhos. deixaria a publicação destas lembra nças para mais tarde, marchando na cola- de Augusto Vacquerie, que levou 20 a-nos a escrever um poema e conservou outro, inédito. por 30 . Meu pai. falecido e,.) comple tar eu a idade aneja, dera-me como padrinho, no batismo, um irmão colaço, provido de recursos . Acreditava que me bene– ficiaria . quando e u lhe fô:;se estender a mão pedinte. Pobre pai! Sacara. sem fundos, contra o futuro! Tomei a minha pitada de sal. ao receber o primeiro dos sele sacramentos da Igreja, na matriz de Santana, onde mestre André, o sineiro nadegudo e octo– gená rio, badalava, com a dextra, o Aragão da h ora de recolher e espremi ?., com a sinistra . os folículos sebáceos do perigalho . Aos oito a nos, tive necessidade dos primeiros sapatos para ir à escola do bairro em que P.U n?.scera- e crescia. o bairro da Campina. que não sei como se de– nomina hoje. O professor revelava-se intratável e agressivo com os alunos de tamancos. Era o momento de agitar a pesada aldrava da porta do homem que seria a minha Prov idê ncia . Acudiu ao apêlo a, dona da casa, senhora madura, que se distinguia. logo á primeira vista, por uma pápula azulada no dorso do nariz. Acolheu-me rudemente, não sei com q uantas pedras nas mãos. De segu– ro. mais de quatro . Eu estava em presença da comborça de me u padrinho. Tinha anciões fulgur antes em quase todos os dedos. a.r recadas de ouro nas or elhas e um rocal de "pin gos dágua" coloridos ao pescoço. pclhancudo e rugoso como toutiço de vaca velha . - - Que modos são esses de bater na porta alheia ? Não sei como não a deitas te abaixo ! - exclamou, aplicando-me um carolo viole nto na cabeça • Com o meu cas que te surrado oculto no sovaco em sinal de respeito, pedi– lhe. humildemente, a bénção . Deu-ma. de má vont;de . -- Eu queria falar com o dindinho . Madrinha de ixa ? -- Não posso saber do que se trata ? Algum mis tério da Santíssima Trin- dade ? - - Pode. sim . senhora, --Desembucha, então ! --Minha avó mandou que c u viesse pedir um snpato para andar na es- cola . O professor n ão que r ninguém de tamanco. Ralha com a gente. porque faz barulho . O ros to. duro e inflexlvel, d:1 majestosa Dalih. que bem-aventurava 8 exis • têncla de meu padrinho. com as barbelas picotndas de cravinhos prelos e pálpc– hrll,, rna.cflcntas, niio couv nem r(•~tia da picdad<,: oue cu c~pcravn .

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