Revista da Academia Paraense de Letras 1955

.. REVIST A ÕA ACADEMIA PARA'8NSE DE LETRAS munhado, correndo à janela para por ela espreitar, três vultos, e ntão divisando : um escra.vo com dois cavalos presos p ela rédea . E1·a um c hamado urgente. Alguem sofria no solene e sa nto transe da par– turição. Mister se, fazia cor resse a a r te em socorro da natureza exigente. O ponto er a distante. O cliente desconhecido. A noite, escurissima. O cami– n ho, .-uim. O êxito, problemático. Nada importava. Duas vidas estavam em perigo, preciso se t ornava tentar salvá-las. E, partindo, se foram os dois, dou– tor e escravo intimoratamente, picada a dent ro. Ao cabo de meia hora de jornada, uma casa se divisou no centro da floresta. Era a da chocara do b:i– rão. Este , ne rvoso, percorria de ponta a pont a e m larg as passadas, 1n ãos atrás ..Ja costa, o vasto terraço iluminado apenas por vestusto lempeão ele :izeite. - D r., diz o noore titular ao médico, há doze longas horas que minha mu– lher sofre a cortar o coração. Vai se1· m ãe p ela primeira vez. Não q uero que se estinga a dinastia. Esta e minha mulher são t udo que mais prezo nes– te mundo. Salve-as, por quem é. Aqui tem escravos e drogas. Não poupe nada. Delego-lhe plenos poderes. T udo lhe hipoteco. A própria vida dar– lhe-ei em penhor da minha pala vra. Aja enquanto é tempo. A ciên cia agiu e meia hora ·de pois for tes vagidos d e rece nato feriram os a res e os tímpanos do irrequieto ba rão. j á tra nsborda nte de alegr ia . - Muito obrigado, retruca o passeante. Olhe, doutor, veja êste brinque– do. E um revolver lucila nos ra ios tenues da candeia de azeite. "As suas balas eram para o senhor se qua lque r daqueles entes tivessem morrido. Adeus, a té amanhã. Mal refeito de espanto que aquelas estranhas pal:ivras lhe causaram, sor– r iu o médico e mais depressa se põs logo salt:indo para o cavalo. Dois meses oecorreram, e uma tarde, quando o casal se entregava todo feliz, às caricias ao nobre herdeiro, no próprio terraço, onde, na noite ter rí– vel, o barão passeara, um escravo surgiu com um cartão que e ntregou ao dono da casa. Era o dr. X, advogado, que êste procurava. Mandando e ntrar, o assunto para logo se ieriu. -Senhor , sou enviado pelo dout or que tratou sua sen ho1•a e trago-lhe uma nota de honorários. - Com imenso prazer a sa tisferei, tanto m:iis 0 quanto admiramos-lhe a pericia e a a r te. A ele devo a m inha tranquilidade. Estranho apen:is q ue l1aja, apelado para o hon1em da lei por isso decerto não se tornava necessário. - Então, diz o advogado, aqui está a conta. Rápido e contente apanha o barão o quadrilongo de papel. Ai dêle . Um suor viscoso e frio imediato lhe imun da a fronte t oda . E' que lêra : "Ho– norários correspondentes ao tratamento da baronesa Matanio, Risco de mi– nha vida : cem contos de réis". V Médico notá vel na sua, especialidade, cirurgião, jornalista, literato, es– critor de renomada significação, "causeur" distinguido, homem de letras em suma, deixou o dr , Orlando Lima um vác:uo impreenchivel na sociedade pa– raense onde p2rmanecem os traços indeleveis do seu bem formado ca ráter . A 16 de julho de do N . S . do Ca rmo no VI 1053 o dr. Orlando 0 L ima ouvira pela ma nhã a missa Colégio Salesia no do m esmo nome, Essa devoção lhe fôr& sempre peculiar, nada deixando prever q ue as horas da existência j á estavmn sendo contadas. Regressando a sua residência ah pe rmaneceu du– rante t odo o dia sem demonstra r nenhum sintoma alarma nte da tral_çoeira doença que l he vinha mina ndo o já combalido organismo. Ain da jantou na ,;ua residência e jogo~, sucessivas par tidas do popular jogo denomine,do "bura– co" com dive rsos dos seus amigos m ais intlmos pross egu indo naquele gêne ro de diversões a pós o janta r costumeh•o. Findo ·o divertimento, e quando já se orlllontrova em seu quar to de 1·e– pouso, queixou-se dos primeiros sintomas do mal súbito que cle n tro de pl guns

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