Revista da Academia Paraense de Letras 1955

58 REVIST A DA ACADEil'UA PARAENSE DE LETRAS n um copo dágua. abrem de novo. tal como se estivesscin no a rbusto que lhes dá onge1u, ajndr1 cheio de scivo. Se u planta morre, o vento lhe carrega a sc- 1uente minúscula, q ue longe e longe, cm te rreno úmi<lo, de novo germina. Essa é uma das coisas mais interessantes a ver-se no Or ie nte" - acrescenta Orlando Lima. Diz-se q ue há uma certa rel.1,;ão com elas "' o misléJ;io da natividade de Cr isto. Con ti nua ndo a narrativa : "As rosas [oram assim por mim trazidas de Jerusalém, entre lenbranças, outrae muitas da viagem. Esqueci-me por completo da sua existência, distraido q ue fiquei com as preocupações de meu oficio de médico. Uma noite, alguém q ue me- chamava para fazer um parlo, em pessõa que era sobretudo cara, visto que a filha é o e nte que mais se ama na vida. reclamou a rosa de Je ricó. Foi e ntão q ue me lembrei da sua existên– cia. Iniciado o trabalho da oarturição, foi a rosa, fanada, seca e inteiramen– te fechada, posta num copo dágu. Ter minado o pa rlo que se realizou cm três horas numa pr imigesta, vol vi a ver a flõr. Estava com os galhinhos comple– tamente abertos a exceder os limites da abc rturn do copo Era mais ou mê• nos, um hora da madrugada. No dia seguinte ou ,mies, no mesmo dia. às O horas . revi a 1n"inha clicnlc, e no seu qun1ilo ntc n1oslra ran1 n flõr. E&tuva de nuvo inteiramente lcchada, apcbnr de não ter sdo rctira<lo do copo Achei i, fato c:ilranho, e con1u eu, 111uitaa outr a:; pcsJÜêls. eulr e a& quals o 111arldo da n1lnha chenlc, COl'no cu, 111.éUico". BELÉM - PAHA Ilustra ndo a narrativa com u111 outro rato icll ntico, ocorrido num la r de um ndvoi:aclo, conclue o dr. Orla,ndo Lim a: "volvendo à casa com a f101· dei– xei ficar durante semanas numa gaveta, atê que um dia e a bem pouco, colo– quei-a como das outras feitas, num copo dágua, ela começou a abrir, mas muito m e nos. Deixei-a ficar durante 48 · h oras, no mesmo lugar e nunca a briu completamente, mas também não fechou; conservou-se sempre semi-aber ta a té que eu, cansado de esperar, a abertura completa, guardei-a de novo".Ultiman– do a sua nar rativa, diz o ilustre médico "que a r osa abra, a pesar de murcha a muitos anos em contàcto com a água, compreende-se, mas que se feche de– pois, em contacto com a mesma água, e em cireunstâncins especiais, eis a m i– nha d ificuldade explicati\·a. Assim como es(.a. outras lendas narrava o dr. Orla ndo Lima, de soas inu– meras viagens, entre elas ao Oriente, com um sabor deleitoso, pois além do mais, o dr. Orlando Lima tinha u m excelente humor e sabia pontilha r as suas crônicas com admirável e sempre apreciado a ticismo . Destarte se explica, o motivo por que eram evidentemente procurndos os seus trabal hos literários onde quer que fossem publicados. Neste grato momento de recordação e saudade, não quero deixa r a tribu– na sem relembrar uma das- ma is interesGantes cr on icas ele Or lando Lima, pu– blicada na "A Semana·•, revista que foz época nesta cidade , intitulada : "A resposta do médico", a qual passo a transcrever na integra, porque hem re– flete o seu cslilo leve, g1·aciuso. refletido e inll•rcssantc, fazendo pcuúallt co111 a cullm<1 111vejt•vel que lhe oruava o l!blJll'ilo adamaulino. Ei-lu pois: Oitenta a nos rodara1n jd depoia que o facto se passou. Auu1e6CtHtlo ao convite que nos foz Alcldes Santos pa1·a colaborar neste nw11c1·0 fcstl\'o dd "A Semana", a impávida r evista que tão gall1ardame,1te vem s uperando todas as dificuldades e agradando a todos, aqui o relatamos, tal qu111 nos foi contado por Feijó J unior, em aula , há mais de duas dccadas. êle próprio o tendo ouvido de seu mestre. o velho França, luminar de tocologia indigcna úquela época. Era ao tempo da escravatura, no Rio. No silêncio da noite adormecera o médico, corpo fatigado por longas excur.,ões a cavalo, que faz.ia , aqui e a lí, onde quer que o requisitassem a aflição e a dôr. Profundo era o seu sono. Re– gular a s ua respiração. Muda, silcnte e escura a, casa toda. Súbito a alda– bra da porta levantada por mão possante e forte. ma nda para dentro dos apo– sci,tos 9s seus sons roucos e aHos. Ouvindo-os, si;illa da cama o -médico exire•

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