Revista da Academia Paraense de Letras 1955

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 51 culpadas, tomam atitudes de pureza, recriminam-se e chor&m. J á falsificam a té as 1ágrimas, porq\te a gente nunca sabe qua ndo a mulher chora de verdade, so– frendo, ou chora de mentira, para nos comover e nos fazer sofrer. . . Tra.nsfi– guram-se e se assemelham às santas. Supllcam perdão e se revestem de tanta suavidade e nobreza que o homem tem a nítida impressão de que o arrependi– mento é uma verdade e o perdão solicitado uma necessidade para a salvação da vida. E vencem. E nós - bôbos eternos ! - relembrando os c2,belos de Ma– dalena e a regeneração de sua alma, praticamos o gesto sublime de dignidade de Cristo. Perdoamos para nunca mais anda,rmos tranquilos , porque n mulher que erra u1na vez erra sem p re, certa e conciente de que depois do primeiro perdão outros hão de vir, na proporção exata dos pecados e das súplicas ... O destino da mulher é vencer, elevando-se ou caindo, porque na lama elas ainda espezi– nham . Mudom de posição social ,mas conservam a 1ncsmo têmpera de coprichos . São insaciáveis . Na queda, pressentem, irrefletidas, uma vingança contr2, quem lhes pertenceu e, por isso, deliram no pântano. Com a mesma fé e intensidade com que amam, odeiam. Junto de nõs, vivem pa ra nós. ama.m-nos somente a nós, e sem nós, não quereriam existir. Dão até mesmo provas disso. Mas, se um dia, por qualquer mot ivo ou sem razão, desente ndem-se conosco, rebelam-se e lan çam sôbre nós, im piedosam ente, impropérios e obcenidades . Va.sculham, com a paciência ilimitada das traças. o nosso passado e fazem as mais extra– ve.gantes comparações e ntre o que houve e o que há, e ntre o que há e o que haveria. Não valemos, qua ndo brigadas conosco, mais nada. Somos piores do que os sáurios. Se tomamos uma atitude elegante, discreta, educada, como re– vide a tudo o que está sendo dito, praticado e prometido ,aumentam em deses– pêro e são capazes até de nos m atar . Aí então. nosso caráter f ica reduzido a coisa nenhuma de miséria. As m ulheres. qua ndo ofendem, querem ser ofen– didas. O silêncio lhes é mais insultuoso cio que uma bofetada e lhes da i mais cio que uma surra a umbigo de boi. .. Se conservamos a calma - o divino sifêncio refletido que todos os momentos graves reclamam dos que pensam an tes de agir - somos taxados de tudo 2,quilo que esteja abaixo da ingratidão. Elas podem relembrar e se alhear à nossa presença. Podem falar em outros homens, neles pensar, pois admirar o belo é humano. P odem sentir cansaços e desejar repouso. Nós, em hipótese alguma. podemos conversa,r com a memória, nem devemos ter problemas a resolve r . Mas perfeito do que elas por determinismo da própria responsabllidade que nos pesa sôbre os ombros, também pensamos e pensamos s empre, porque niio somos, como elas, balangand:ms do. vida· · · Como todos os seres racionnis ,lemos direito à re(lex i\o e o dever divino de sofrer· A s mulhe res Vc,m no noss o s ilêncio ou no n osso recohimento uma trai<::10. Também cl!ls nunc:1 pensmn nurn hotnem ~0 111 c.Ic~-;j:'t-lo ou sc,n segundns intenções• · · E multas vezes estamos pensando nelas com ta nto ::imor, que somos mais emoçno que seres hu1nonos ... São assim as mulheres. Tôdas as mulhe res. Nunca se sentem bem nem felizes· Querem mais do que é. possível e desejam mais do que o justo. EgoiSlas além do lógico, do humano e do imaginável, se desgraçam às vezes, me.s sempre conseguem um Cristo paro percio:ir seus pecados .... Mas, ainda ::is~im, apesar de tudo, de todos esses defeitos que são virtu– des em muitos caracteres Oexíveis, temos que reconhecer que a mulhe r é a única. coisa a proveitável dentro da inutilidade da vida ... S5o, pelos menos, os únicos seres no mundo que nos dão a coragem pa ra lutar e nos perm item a loucura de acredita rmos na felicidade quando inspiram o nosso amor... Outubro de 194?. - Belém. (Publicado na "Fôlha ,do Norte", de 5 112,949)

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