Revista da Academia Paraense de Letras 1955

REViS'Í'A OA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 47 sionantes de sua formação menta l, avultavam os fenômenos e os problemas politicos, const!antes fundamentais elo seu temperamento. A política, por um fatalismo inelutãvel, o conduzia através de atalhos tortuosos, eriçados de triunfos e derrotas; e, ao seu influxo, no atingir alturas pinaculares, sofreu dilacerantes revézes. Não se trata, porém, nesta oportunidade, de descortinar os panoramas sedutores da vida j ornaUstica e liter ária de Raul de Azevedo. Em louvor do grande acadêmico amazônico, par a a contextura desta r esenha de excertos impressivos de uma vida e de uma obra, imporrnm unicamente os aspectos multiformes de ma existência de homem de ação. de professor de atitudes cavalheirescas, de combatente de primeira linha em mais de cinquenta anos de lides incessantes e pe:rigosas, que o levaram a conhecer de perto o senti– mento de altruismo das consciências invulneráveis e os rugidos de mediocri– dade obnubilada pelo despeito e pela inveja, insusceptivel de perceber-lhe a verticalidade das posturas e os impulsos generosos do coração. É uma página viva de altivez e sobranceria, a história do. seu compor– tamento moral no exe:rcício das funções administrativas ou eletivas a si con– fiadas, sem que se lhe pudesse increpar a vergonha ou pusilanimidade de qualquer ato em detrimento das normas retilineas do seu caráter. Foi se– cretário geral do Estado, quasa adolescente, no govêrno efêmero e de epilogo dramático, do general Filete Pires, apeado de chôfre do seu posto, por efeito de uma renúncia falsa. Acompanhou o Govêrno que caía. Foi Secretário de Estado na primeira fase do Govêrno do CoronL~ José Cardoso Ramalho Junior. Recusou :is melhores propostas pal'a ficar com os que subiam. Depois, na administração Silvério Néri, com lealdade exemplar, r epeliu o apachismo e não se aliou à matula dos trânsfugas que esqueciam os favores e procuravam aniquilar o prestígio do inesquecível amazônida. Rompidos os vínculos que o Jlgavam à política do probo coronel Antônio Bittencourt, então governador do Esrado, e cuja senectucle não lhe amolentou as energias combativas, Raul de Aze vedo ficou r csoluti'\mente com o primeiro. sem medir as conséquências de sua decisão e desprezando as ofe r tas c vantagens que lhe acenavam para atr aiçoar o amigo e: chefe. Com a reposição do velho Bittcncourt, em 1910, depois do bomL·ardeio de Manáus, ca iu em negro ostracismo. Mas a luta recomeçou com maior violência e impetuosidade. Na trincheira da oposição, que era a "Folha do Amazonas". de parceria com um luzido pugilo de jorna– listas - Porfirio Nogueira, Araújo Filho, Júlio Nogueira, J oão Barreto de Mene1.es, Virgilio Barbosa, Alc1des Ba hia, Telésforo de Almeida e muitos outros, quase todos dei:apa recidos, - a sua influência !oi tão incisiva e des– tacada, qu e o escolheram tlc: preferênc ia os d iscolos da situação pnra alvo p1•erlilelo, assalta ndo-o e agredindo-o várias vezes, em plena rua, no presu– posto tle que a b a ixeza ae seus comet imi::ntos lhe intimida&se a bravura. O c, rvo das-proYocações, bem ao reve:;, ma is 1l1e retemper ou o ânimo e estimuiou a combativ idade. · Furam nssim, na políliC'O, as allc,·m,tivas de sua t·..:islt'.\ncia 1cmpestuo~n. Em 1925, juntamcnl.; quando na A~·sembléia Legislativa exercia a ilde– rança governamental, um impncto fulminante do destino, como se fôsse a ex– plosão de uma descarga elétrica, desarvorou e abateu as fibras do li_?ador. Herbert de Azevedo, seu filho diletissirno, que então enobrecia as funçoes de prefeito da cic!ade de Coari, no rio Solimões, era trucidado covarde e selva– ticamente por uma horda de cangaceiros a~-salariados, indiferentes aos assomos de sua coragem, enfrentando sózinho e heroicamente a fúria dos ataques, que o deixaram sem vida. il:sse gesto de desvairada intrepidez teve dolorosa re– percussão em todo o Amazonns. O Govêrno, o Município e o povo, em sinal c!e gratidão mandaram erigir-lhe uma herma ."Onsagradora, para. e·terniza r no bronze o f~ito espar tano. Ê~se monumento ~Jorios,o . (refira-se, entre par en- 1es1s, a ignominia do atentado que servir á dt: subs1d10 para um capitulo de– primente da nossa história poiltica) foi tripudiado pela salsugem humana, pela escumalha das ruas, que se lançara em alucinada vertigem de incêndios e •depredações, à cata das autoridades destituídas com a mudançà brusca do r e– gime; e, na •ausência do pai, visado para ceva.r-l he as irns, vingava-se na es– tátua do filho arr emessando-à às águas profundas do rio Negro. Isso, em 1930, no adve~to da Revolução de Outubro. que alijando Wasl')ington Luiz, fizera desmoronar 0 siste:ma político que· regia a nação.

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