Revista da Academia Paraense de Letras 1955

46 REVISTA DA ACADEMI A PARAENSE DE LETRAS ESCRITOR E HOMEM DE AÇÃO Por PERICLES l\'IORAES Reconheço que as ge rações de hoje lerão sério!: embaraços para _com– preen der a posição e os itinerários da obra de Raul de ~ zeve~o. Existem e,tre as correntes e influênc ias do passado e do presente, distanciando-lhe as direções e objetivos, fatores de or_def'!1 estética e mesl!lo de índole _PSic~lógica que desvirtua riam e, talvez, preJud1cassem ? capacidade de _rac1ocinio dos iuizes do futuro. Tem-se escrito tanta barbandade a seu respeito. que os pós– teros. quando se dispuse:·ram a fazer a 1·eviião dos a utênt icos valor es do n osso tempo. Jevanclo ern conta a relativ idaclr •do ambiente em que vivemos e os mold<'s rulturais da nossa é poca. não hesita rão cm situá-la no seu devido l ugar . Como quc·r que seja, prevalece rão_ S<>m nc~hurn,a dúvida, as v(rtudc~ e as C'fllalidac'cr· do escritor, C'fUC prn· rn,11s ele mc10 scculo vem servindo il dir.nic.ladr elas le ln1.s naciona is. Q ,: :S('US livros só não lhe revelam sôme nte ;, i111;,:•i11;1çtt0 crinrlnrn <' o pnl<'lll'Í:,) dt· int,,liqéncia constru tiva. como também ,1,-111,1ita111 ;is faculrla r!Pt; as,.in1ilaclo1·as do homem de latras q11e, fazendo das letra" n e\'a ngelho dP. SUA d cl:;i. ne las encon!J a sempre o c'er iva tivo pa,ra suav i– zar-Ih, os amargores. Não sei. na Amazôn ia, a terra onde o seu esplr ilo fin– co11 1a1z 0 .s ';! desdobrou-se em rxubcr antes florações, de outro intelectua l pos– suidor de igual •>U c!e ma is copiosa bibliografia. Ra ul de Aze vedo nasceu com a vocação de pr.nsar e produzir, que é bem aquele " vice impuni " da literatura, otimamente definido por Valé ry Larbaud ; e foram os livros e as idéias que lhe proporcionaram os mais volutuosos de– leites. Embor a não temha vivido da pena e pela pena, a exemplo de Coêlho Neto, é ce rto que nem os labores exaustivos da burocracia, nem os avatares da política e do jornalismo, lograram impedir que o considerassem, na a tuali– dade, uma das ma iores cxpre.;sõcs mentais do pais. Sem que se lhe visione a obra apenas pelo cr ité rio do cômputo bibliogr áfico - - além de trinta volu– mes em tôrno d <> múltiplas e variadas modalic ades .d" arte literária. sabendo– se. ~ue Raul de Azeve:do é romancista, ensaísta, h.istoriµdor, conferencista, cnt1co. conteur e cron ir·ta, bastariam os re!Pvos cativantes do seu eslilo aris– tocrático. que o rigoroso apuro vernáculo embeleza. pa ra fazê-la resistir aos embates da - critica. Acrescente-se ainda. por não se haver incorporado à obra do publicista, a sua primorosa cola boração nos jornais da metrópole e_ da província, não enfe ixada em vol umes. P orque, a ntes de tudo, o jor na– lismo. como uma fôr ça imponderável, o atraiu dêsde os seus passos iniciais na ca rre ira literária. Póde-sc dizer que a sua formação intelectual se pro– cessou na atmosfera do jornal. nas campanhas de imprensa, em préUos ardo– rosos nos quai_s o polemista. pela ~1Ja ousadia r destemor. consegu iu noto– riedad e repcntrna. Educado na escola de Antônio Lemos. que cm derredor d .,.," A_ P!·oví~cia do Par á"", o granc'c ma tutino re putado co~o um brasão da. hcra~d1ca Jorna listica cio norte. ai::rupava as maiores inteligências que se cv1_dencia~·a 1_u n aquela época. R,1ul de Azcvcdo, mal sa ído dos curnos gina– siais, cn!1le1rou-se sem o minimo deslustr e na galeria dos mais destacados C(?labora<;1or es, 310 Indo de Ma rques de Ca r valho. Frederico Rhossard, Castro PI?~º• Ellseu Ce~ar,_Paulino e Heleodoro de Brito, Humberto de Campos, Celso Y1E:1ra, F~exa R1be1ro, Alves de Sousa, Bertino de Miranda e, j á n os seus ult1mos dfa_s, antes de ~er devorado pelas chamas, no ma is vandálico dos a ten– tados poht1cos que a inda se cometer am no Brnsil con tra a l iberdade de im– p rensa .no fla nco de Romeu Mariz, o magnifico Bayard de indómila coragem, que o defendeu com armas na mão. -~ e r e\·olver mos _as anliga_s. coleções dos jorna is da gle ba planiciária, em– paca a~as ?~s. arquivos, test1f1caremos que Raul de Azevedo, ainda muito moç<;>, Já d1n g1a os d~ ma ior atuação 1Jolílica e social imprim indo-lhOQ pers– pectivas novas e rC>bnlhantes. Com os atributos estelares que lhe circundam o nome, grangeo1;1 _a fama de_lutador, 1>xposto temer a riamente às contingências de recontros dc-c1~1vos e arriscados. Na realidade, entre os aspectos impr cs-

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