Revista da Academia Paraense de Letras 1955

REVISTA DA ACADEMIA• PARAENSE DE LETRAS 43 de ludo, e principalmente das mulhe res. Tinha s ido durante um mês, um pobro iludicll'lt A minha decepção estava n a razão inversa do me u amor. Sentia ime n– samente, porque eu era um neófito no comércio com as mulheres virgens. Era um crédulo e um inexperiente. "E ·seguimos lodos cm direção ao C2,iro. A T é bas le ndárias e mile nar çom as s uas colunas e mina re tes solit"ários, ressaltavam no solitário ela paisagem som órvorcs, com a beleza lúgubre de um fantasma . Na margem esquerda, "5 pirámides ão Egipto perfilavam-se no deserto da Líbia, como longínquas mon– tz-nhas . A bordo do vapor em que viajávamos, o "Ramsés 2,º "· um dos britá– nicos meus companheiros, - que em gratidão dos serviços que lhes prestei na guerra passada, me tratavam como amigos sinceros, _: Interpelou-me sôbr !' a minha desilusão da vida : - Pois o que vccê quer meu càro ? ser ludibriado de uma ma-neira tão grotesca ! . . . respondi. "Ludibriado n ão !, respondeu éle . Se houve um enganado. não foi você, foi o no•ivo ! "Fiquei olha ndo o meu amigo, comti quem desperta dum sonho màu ; depois sorri . Sorrí-me como aquêle rei que escla recido pelo faltir, se curcu da sua paixão. O fakir disse: Majest ada. se a sun ama nte fugiu três vezes, é porque ela, não o ama. E dia nte disso. o rei ficou curado cio seu amor, porque êlc se baseava como sempre. na inccrtQza. Oru. em frente ela e videncia cio a r gumento, o amor próprio• tinha que agir como U!!I caulério . Depois, os eng?-'.lados tínhamos sitio dois . Estava consolado . º Mas adeus, anligo es ta carla jã voi lo nge. e eiu breve nos veren10s·· . Francisco/ Leão viveu i1inda alguns anos. Mas a doença pertinaz run breve o levou deste mundo p ara ;:,,s grandes surprczas do Desconhecido ... AS MIL E UMA NOITES Existem pelo mundo, numa faixa que abrange todo o sul do mar Medi– te rrâ neo, entrando pela ásia, e avassalando parte da Oceania. - os vestígios de uma epopéa que quase empcllgou os destinos humanos . .. Essa odisseia foi a do Mulçumanismo, que do apogeu da sua fôrça e es– ple ndor, d eixou cspnlhaclos pelo orhc ,· r elíquins de rar o valor e hcleza, j:\ em 1ne lodias , ein 1nonun1entos, jâ cn1 le ndas 1narnv ilhosas, cn1 que a viflo é rlesve fl – dada, com tódas as incognitas e ansiedades de ambição e amor - Vemos, por exemplo essa magnâ nima sultana Scherazade, nas mil e uma noites, contar as esplêndidas histórias que cons tituem um 11emenescente p~e– closo, como "O Príncipe Calende r e s uas aventuras", "O Vizir Calaff e 8 Flnn– ceza da China", ''As viagens cio Corcunda Morto", e outras tantas, que. nos abrem os d lhos pa ra os mistérios do miraculos o. A formosa Rainhe-, ao narr~-la~. niio cogitava que esta va retrata ndo alma musu lmana , no que ela tem de_ m gc– nuo. fatalis ta c a rdente. tendendo tócla para um mundo de magia e de imagi– nação deslumbi·ante, em que a fantasia, paradoxalmente. aliada a jus tos prin- cipios de m ornl, toma desenfreado vôo para as regiões maravilhosas - . o Ara be, por lcmpe rumentu btti)e rUcloso. nascido num arnluente ur1tlo e lnipJacáve l, e dotado de i1no&lnoção v iva e 1·uu1anesca, e ngendrou UJll~ vida pkna de f antasmazorla, alllela à r ealidade chocante , pdr tt se compensar da crassa pobresa da sua exis tên cia. Daf, es~as lendas opule uta_s, onde as rupias, asplast~as, 0 5 mnre.vt d is, 0 9 sequins, antigas moedes da incha e do L e– vante , de mistura com quantidade vultosa de pedras preciosas, rolam numa orgia ofuscante de Juxo e riqueza- .. Nela.s as cidades como Bagdá, Damasco, Beiruth, Bassorá, Smirna, de s imples empórios comerciais no Orient~ Médio, aparecem ostentando toqo o fausto das côrtes de K alüas . E assim, um fabllloso mundo de encantamento\\ se desenrola nos nossos olhos. Apesar de tudo, porém. "As Mil e Uma Noites" encerram um porte ntoso cabedal de sabedoria huma na.

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