Revista da Academia Paraense de Letras 1955

30 ·- ;;_ REVISTA D A ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS SE ALGUMA VEZ EU FOSSE RICO . De WLADD\1:IR EMMANUEL (Sócio correspondente) Se alguma vez eu fosse rico, levar.te- ia, Mãe Preta, P ar a AMBROZINA ROSA GONÇALVES aos lugares ma is lindos que há no Mundo ! Possuiriamos, decerto, um pequeno automóvel, s impatico, maneiro, mas não muito veloz, para te n ão assustar em desatinos de velocidade . . . O nosso carro gostaria de engulir seus quilômetr os, sem dúvida ; mas, saberia fazê-lo, de maneir a educada, para que teu sor r iso da partida se fosse, brandamente, transformando no encantado sorriso do percurso, no sorriso curioso da chegada. Diante das portas monumentais dos hotéis de alto luxo, eu saltar ia pr imeiro, dar -te-ia a mao, e entraríamos os dois, de braço dado, nos vestíbulos suntuosos. Tôda gente, todos os brancos, ou quase brancos, n0s olhariam pasmados .. . Mas, ninguém se atreveria a dizer tanto assim '! Nenhum ge r·e n te tel'io1 a a udacia cite inventar que n ão havia apartamentos vagos ... Oh, nada, nada deverias recear ! ! Porque cu ser ia, então, um homem muito 1·ico, e os preconceitos raciais, Mãe Preta, são, como t udo mais, para essa gente, solúveis cm ouro e prata ... Se alguma vez eu fosse r ico, levar -te-ia aos costureiros e modistas de fama, para que revestissem a noite mansa do teu corpo cansado, de obras primas de sêda e de veludo. Escolher ia, nos joalheiros, as pérolas mais lindas, para com elas constelar o indeciso luar dos teus cabelos. Fosse e~ rico, Mãe Pr@ta, alguma vez, e haveria de provar-te, em mil deslumbramentos e alegrias, a enternecida gr atidão de q uatro gerações do meu sangue ciue conheceram bem a paciencia, Q ca1·inho,

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