Revista da Academia Paraense de Letras 1955
4l :REVISTA DA ACADEMÍA J?ÁRAENSE rJE LETRA~ __________________________________ ...,. - O que m e diz ? o patife bem merecia êsse castigo 1 - Todo mundo na província sabe que êsse desembargador faz negócio com as causas que de.9endem do seu jul~amento. Justiça para êle é dinheiro, e do grande, senhor Batista da Silva, do grande . .. - Mas é uma injustiça, conser var um homem como êsse, em funções tão elevadas! terra - Mas o que quer ! A Junta não governa e sim desmor?.liza esta infeliz O alferes ch egou-se mais para perto do amigo e e ntrou a confidencia,· : - Sabe o que tenho observado em todo êste movimento ·/ E como o outro esperasse pela revelação : - . . . O começo de uma grande reação nativista ... O tenente José Batista da Silva não pode refrear um gesto de espanto. Custava a crer no oue lhe dizia Simões da .Cunha, tão absurda era a ideia de viver a provincia independente da côrte. Até ela haviam chegado os rumores de que algo se tr?.mava no sul, contra a permanência de portuguêses, nos luga– res que mui justamente eram disputados 9or filhos da terra . Isto era o inicio de uma campanha que havia de aumentar gradativamente, à proporção que se fossem dissemill.!'.ndo nas demais províncias brasileiras a ideia da libertação pá– tria. Mas, no P arâ, onde predominava o elemento luzita no. era espa ntoso que tal sucedesse. Que se lutasse pela propaganda constitucionalista era justo e compreens1vel, e quase todos os portuguêses jâ estavam comprometidos na in– surreição. Mas, com intenções nativistas, era de espantar. não havia dúvida . E foi só de9ois de refeito da sensação que a noticia lhe trouxera, que Batista da ::;,1va conseguiu responder ao amigo : - Es~ou estu9efato pelo que ouço, senhor Simões da Cunha. E com que conta o povo para levar avante semelhantes pensamentos ? - Ora senhor Batista da Silva, de tudo é capaz a multidão, quando encon- tra um chefe que a conduza aos rumos mais perigosos que se conheçam . E numa confissão espontanea : - Eu mesmo iria jurar, que a ideia me seduziu e comoveu ! - Também a mim, e é por isso que lamento não termos na provincia, elementos para tornar em realidade aspiração t ão justa e nobre ... - Mas senhor Simões da Cunha, não falemos por enqua nto em sonhos que estão longe de se transformarem em realidade. Vamos .:!O assunto do dia : para quando ficou, finalme nte, o levante ? - Hoje ã noite lhe darei resposta certa. - Mas não esqueça q_ue estamos a 29 de Dezembro, e que de vemos apressar o negócio 1 .. . - Tudo serã em temno . E o coronel Vilaça tem os seus planos pa ra êstes dias. · Está bem senhor alferes . Que Deus seja conosco; - Pois então até amanhã à noite, senhor Batista da Silva 1 - Até amanhã. E Simões da Cunha deixou a loja do amigo para ir encontrar-se, Jogo em seguida, com Felipe Patroni. 31 de ·Dezembro de 1820 . último d ia de um a no tão cheio de apreensões e de incertezas, para a vida outrora pacata e simples do Grão-Parã . o germe da insur reição havia contaminado a alma popular, prope nsa não só a apoiar os metropolitanos, como a reivindicar para a província paraense, o direito de dirigir-se pelos seus pró– prios filhos, sem o auxilio dos administradores portuguêses. Compreendia-se pelos túmulos que continuamente alarmavam ns familias. que das ruas de Belém. fugia a tranquilidade que a Junta oe sucessão, por fra– queza ou conivência dos milicianos, ainda não pudera fazer retornar aos lares, temerosos de desfechos m ais graves. A acus~ção veemente contra os membros do govêrno, era a clava de que se serviam os seus adversários, para descolá-los db conceito público, uma vez que já haviam perdido n confiança geral. O desvio criminoso das rendas públicas, as opressões sofridas pelos la– vr odores, as exigências tributárias ao comércio, o abuso continuado de fôrça contra os direitos constituídos, o aviltamento da justiça eram motivos para jus– tificar a campanha que a Junta sofria de parte do povo, insuflado habilidosa• mente pelos constitucionalistas, devido os jornais e bolet-lne de Felipe Patronl, , a& manobras insurrelolom1la de Simões ua Cunha,
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