Revista da Academia Paraense de Letras 1955

22 RÊVtSTA DA ACAbEMIA P ARAENSE DE LETRAS CASA DESARR UM ADA (A guisa de memórias) De MANUEL LOBATO (Cadeira n. 1) P or êsse m il oitocentos e oiten ta e tantos, metido em calças curtas, indu– mento tradicionalmen te prescrito aos pequenos de pouca idade, r evejo-me, n êste momento instala do, entre outras crianças, em uma das janelas de vistoso sobrado, sito n~ Largo da Sé, esquina da Calçada do Colégio, depois, por alguns a nos, Pedr o Raiol. Vistoso sobrado seria, à quela época , me1:mo de um só piso, visto que não exi!,tiam em Belém , como gosto predominante , senão as casas té1,reas. Lembro-me que o rez-do-chão e ra todo ocupado pelo estabelecimento com_er– c ial do sr . J osé Izic!oro Bentes, que, com sua família, morava no andar supenor. Madrugáramos, minha família e e u, conforme r ecomendára o auto1· do con vite, para chegarmos a tempo de a preciar todas as fases do notável acon– tecimen,o, anunciado pa ra aouela ma nhã. Ao chegarmos a li, já fÔrmigava gente em procura de sitio mais propicio à observação de tudo. Jo·raques e mangas de camisas, vestidos rendados, por vezes cobertos de fitas, e cabeções coloridos, pés metic'.os em botinas, chinelos e descalços, tudo is3o conconia para o tom [estivo daquele a1'vor ecer "de uma fl"escw·a e~tival, de lic iosa··, na a escr ição amena de vitorioso escr ito1· pa raense. la ensaiar vôo o g raoae d irigível •· Santa Ma ria de Belém", que Júlio César havia construido µarjl. admiração de seus coestadanos e glória dos com– µratiotas. O ba lão fõra depositado no interior da Sé Catedr al, e de lá, ao umanhecer, conduzido para o Arsenal de Guerra, tudo existente nas cercanias, segundo depois ouvi dizer. Minisirava J úlio César os indispe nsáveis elementos para a ascenção de sua a1,.-ronave, quando descobriu que mão criminosa havia aberto rasgoes no boio da construção, impedindo-a de con st:rvar o gás r ecebido. O ~-ol basta nte e levac10, a quecia a tcl'l"a, qua11uo a u.,s01aoora notícia pe r– correu a praça e encheu, depois, toda a cidade. Oco rria mais, a cu·cunstancia, ao que· purece, de pare ntesco afim, soli– dificado po1· laços de velha e cordia l am izade, entre o aviador e o dono de casa, a aaensar o véu de tristeza que se desdobrou em lõrno ele nós. F ixei-a, por isso, e, ltoje, a r eve lo, sem propositos historiógrafos, mas apenas como rLxador de talos oesenr olnaos d iunt<: d1; m<:us olhos infanlb, ... Foi a inda da sacada de janelas do mesmo sobrado, assisti à forma– ção e ao movimento dos primeiros círios por mim nssistid<,u, 11u tu cldutle. .l-.juturulrn1;nLc, quundo o p<m lu de ub~<:rvaçáo, demora no l oc11l do Jnlclo a VIBUU, Cle COflJUnlO, é, Pl'JIOL'll'Umen tc, l(Jf11(Jd á p ela moved iça multidão, p~ra ubJe t1var, depois, a tranquila imponencia da berlinda de Nossa Scmho ru. E a ópocu, u pequenino vulto c1u ii,·unuc pulll'ocl<'u, c 111 maos hum1rnns ~ó tr;rn$pun110 a d istá nc,a oa n:,vt> da S" a té II Mt•U C0l'l'U trluufal, colocado d ;,urtu do templo. Com a ,guma fidelidade, e às vez~;; :ité sem <.,la. pPnas t•tl<•xl,•t,d uM j& s e v c l.lpll l"lltn Uü. l.ºXCl!lJC H.>J1U J1nc n t.e t!I U IIUC ll'U tl.lÜ.U li<;UO , J"(1,.,"1t'1"11'e l, J)llJfi, ('LJf)l JJÜ:lJS uc 111 urn, u que, O margem elo C'lrlu, se dci1e111 ul11v11 1: Jol desfeito por imposições uus necess1uaaes cnaaas vor vic1ss1t udcs itT<,Con 1ve1s. Ni!sues oncnta e quP, ja por m11n 1·c1,•1·,uu•, u rcgln11.: domlnnntr ,. 1 il u monnrqµ111, ,, n c.•.'>Cl"AV1qnQ, , 1 111nnc11n Ci4'' ''"' " "llfi 11111 (IV(!IR U.!lllàvam iuvu,· oc nosso país. A 1,JObreza, também, era desconhecidn l-m Belém, onde as utllldades rlri todas as 11spéc1.::;, estavam ao a1canc11 das bolsas menoR rcchrinrtas. Or a ' ao ~!ll!t'81' o iruncto dl(I do c1rlo, 10d08 so col.>!'Jcnn dt: roupas novas, e ninijuó~ ~11 o

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