Revista da Academia Paraense de Letras 1955

20 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS : ) 6 (l N O T U R N O S ... BRUNO DE MENEZES - 1 - A penumbra. do luar, em violáceo sudáreo, aquarela o jardim de poesia lilaz. Luas de outono... O céu é fúlgido sacrário que encerra a hóstia da lua e enche a noite de paz. O vento, no a1·voredo, em som que se desfaz, do meu Poema de Insônia entôa o antifonário. Na sombra anda Chopin. . . e um Noturno fugaz smorza, a soluçar, na alma do stradivário. Chovem folhas, que ao luar são lágrimas de prata caindo, gotejando... As violetas trescalam... Dante, a louvar Beatriz, alça a lira, e arrebata ! Uma voz, no silêncio, é uma estranha camélia mor rendo... Canta alguém... São as Horas, que embalam as dúvidas de Hamlet e os delírios de Ofélia. - II - Criva a rosácea azul do vitral luarescido o poente e escuro cláush·o em cintilas de luz. Fóra, o luar amortalha o parque adormecido à evocação sutil que um noturno traduz. Para as estrelas, longe, a asa do som conduz Paganini ao violino... E a música é um gemido... O Anjo de minha Dor ergue as mãos a Jesus, suplicando por mim o meu Eden perdido... No céu azulescente - alma em nívea carcérula, - brilha o elmo de São Jorge ao luar no azul desnastro... .•.;\ via látea em fulgor é um lacrimário em péJ:ola. Lampejo alto e fugaz qu~ das nuvens deslisa corta o espaço... E' a última estrela, é Deus que unge, num astro, a paixão de Abelardo e as angústias de HeÍoisa. - Ili - Nessas noites se,rt lua ê de un1 céu misterioi.o o veludo da treva arde em flores de Lis. O Arcanjo de Samain baixa o olhar luminoso na t1·isteza interior de um exíllo infeliz, 1 01

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