Revista da Academia Paraense de Letras 1955

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 17 as nua ncas. Um d eles é o sr . J oaqu im Magalhães Car doso Barnta , ou Joaquim Ca rdoso de Magalh ães Ba rata , ou lá como é . J amais p ude re ter-lhe o nome ses – q uipedal e a fisionomia indeterminada, ora máscara cômica, ora semblante de efebo, ora esgar de coisa indizível . Vi-o três vezes no decurso de 19 a nos: urna , de longe, em 1930, quando surgiu coronel, de bobice, com um lenço· rubro enrodilhado ao pescoço; outra, ao visitar a FOLHA, dois a nos depois, e por últim o, em 'Palácio. parn lhe assistir a uma a re nga administ rativa . Na visita à FOLHA, de cham panh:i em punho, aJ'et'.!do e mar ejando s uor (nesse temp o a inda não porejava. ódio) cóm 'voz semelhante à d:i galinha doente de pigarro, declarou que acabara de ouvir, d e mim mesmo, n as p alnvras g t·atu– la tórias que lhe dirigi, :;o, minha intenção de sair da vida •pública . Neg{lva-m e, p o– rém , esse direito, pois m e sobeja-vam f ôrças para continua r ao ser viço da te rra comum . Foi r íspido e a utor itário. Considerava-me, n essa altura, um dos "h o- m e ns necessários" da. ga leria d e La udelino Veiga. · Anos decorridos, o s r . espiritis ta Nogue ira de Faria, que conheci n o obscuro estado de larva ou la-gar ta, antes de se me tam órfosear em desembargador, foi ao Chapéu Vlrado, on de e u me achava. como o personagem de .'.Júlio Din'iz, de papo para o a r, conta ndo e r econtando as ripas do telha do, con\·jdar-me em nome d o sr. Ba rata, pa ra assistir à exposição que êle ia fazer dos a tos de seu goviãr no . Re– sis ti, quase s,grestem ente . O desembargador, porém , gorjeou , como o uirapur ú das ~elvas amazônicas, esp alm a ndo ?.S mãos sôbre o pe ito, e nesses momen tos é irresis– t ível. J á expe rimentaram a lguma vez? Fui. Mas, mesmo n esse ensejo, não con– servei os a rabescos da sua catadura . Por me u infortúnio, sou ambliope. A julgar. en tretanto, pelas suas áfricas amór osas, deve ser um Adonis, fascinador e f atal. De uma das sua-s vitim as, ouvi, confidencialmente, que o é. Quando se despenha sõbre o leito das infidelidades, lem bra uma avala ncha. Servem-lhe as Evas de qualquer cór, procedê ncia, oficio ou nacionaUdade. F a-z cambada sem escolher o peixe. Tant o lh e a praz o bacuzinho papa-fezes como o irrequieto tTalhoto de praia . Com õlho a tilado, despede as setas erv adas do s eu côldre de seduções, aguar da n– do, depois, a-s pobrezinhas, est uant'e e im placá vel, com os rins elega n temente cingi_,, dos em pijamas d e sêda . Resistir quem pode? Quem há-de mesmo? Ac redito que desejaria ser, como César, o mar ido de todas as m ulheres . De cii!ncia, pr ecisa, só sei que é Bara ta, o inseto n oturno e caseiro, tradi– cionalmente nauseante, que rói e contamina tudo e ater roriza, as m ulheres tímidas • Hesito se dev~ acomodá-lo n a categoria dos cele ra dos ou na \los cabotinos, ou se os seu s requisitos lhe permitem ficar em ambas. Os individuas de se ntimentos e idé ias cambiant es. como êle , tomam . facil– me n te, a verossimilha nça dos lugares onde s e acha-m, p ois dispõem da mesma p ro– priedade de certos moluscos. Na minha adolescência, conheci-lhe o pai. P leiteava do govêrno Lauro So– dré, seu compadre, a nomeação de a dministrador d a colônia agrícola de Mont e Alegre . Era um camarada amável e comunica tivo, que sorria sempre e não t irava o palito da boca de pois das refe i,:ões, como sucedâ n eo i nócuo do cigar ro. Ninguém mais pontual na FOLHA, à hóra em que se be bia o caiézinho ves– pe ral. Singula r izava-se pelo r os to esguio e o número incontável de engelh as, que se entrecruzavam e cm?.ra nhav:,,m com o nervur:is de folh~s mfatinér veas . O ver– melho do rosto forma va simpá t ico con traste com a cabeça grisalha e o p equeno bigode branco, cuidadosamente en calamis trado. Conservar-lhe as guias bem tor– cidas e empinadas, representava o mais assld uo dos seus q uer::izeres, o e ntrete ni– mento predileto dos seus dedos longos, espessos e nodosos, que irra diavam de mãos grosseiras e pesades, à semelhança das mãos de um rachador de lenha . O dors o destas e ra um labirinto inextricável de plicatutas . Amava a pinga, como estimulante corpóreo e fisiológico, para refre_scar, para aquecer, para dlspõr ao ap etite o estomago e nfastiado e preguiçoso. E , às vezes, como incentivo psiquice a c01~fidê ncias e desabafos. O dr. Uchôa - espe– çialist~ ero ferme ntaçõeQ - fornei:Ja-lhe amostr 11 s 111•1\tis àe elixires eupéticos.

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