Revista da Academia Paraense de Letras 1955
REV!STA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 15 E eu fiq uei. Para onde é q ue havia de ir? Enéas era orgulhoso e, algumas vezes, complic:1do . Não tinha, c om efeito, barba. Em vez desta, apr esentava, no sitio do bigode, u ns pêlos raros e esquivos, que não podiam merecer aquele nome. Elra b:üxo e entroncado. Penso nele quando vejo por a i o desembargador Mouricio Pinto. Cabeçg grande, rosto vultuoso. Gostava de rir, co1n utn risinho ··saccadé'' mais com as faces do q ue com os lábios. Qu~ndo o dr. Rosado lhe pres– cl'evia, tants... .; gr31n2s disto, t:éu1tas d::iquilo, para Jhe din1inuir o peso, respondia-lhe ln val'iàvelmen te: ..Não é o :ilimento que me engordn, caro :imigo, é o riso . Pre– firo mor rer gor do e jovial. Possuía mãos de criança, pequenas, gordin has e su:wes. Uma grãfina as in– vejaria. FalRva brandamente, com voz le n ta e d iscreta. J amais lhe observei alte– ração no tom, mesmo q uando estava exaltado ou de mau h umor. Sómente a fi. s10nomia lhe espelhava a má disposição do espírito. Umg, verruga, na asa direita ou esquer da do nariz, j ã me nã o recordo, constitub motivo de apreensão para o seus nervos . Receav:1 que se torn.:1sse cancerosa . F irmo Braga a-cusava. por ig ual, o mesmo temor, quanto a um sinal escur o, en tumescido, com que nascera no bei– ço inferior . Votta e n1eia, apalpava,-o, tateava-o, e quando, porventura, lht! <:!es– caia :i cigarrilha par:a o la do do "perigo", exclam:wa assust:.>,cto: - --011, diabo !" • E apressava-se a cor rigir e posição do char utinho, como se recuasse, tal ou tro Fuas l<oupinho, da beira do abismo. Enéas casou-se com a únic!l mulher a quem amou no curso d!I s ua breve existênc:ii>, e dessa uo ião nasceu-lhe um filho, que tem o seu nome. Soub", ha poucos d ias, que exerce o magistério na capital do pais. Nas horas em q ue o trabalho lhe permitia Jazer, seu recreio favorito era divertir-se com a criança. Deita,va-se no so:ilho, em espaço aberto, e rolava, enovelado ao garoti nho, q uando este se .lhe não encar:-,p itava, as cavalinhas, no toutiço rijo e carnudo. No d ia em que chegou d o Rio, após haver assumido o govêr no, encontra– mo-nos à porta da casa, do dr. Teotônio de Brito, o nde se hosped:ira. Eu i:i dar– lhe as bôas-vindas. Ble saia, t rajando calças às listras pret:is e cinzentas. fraque e cartola. Emp un hava a sua bengala habitual. Encostou-me a ponta do bastão ele– ,:ante à barriga e, espipando a sua risadin.ha trocista, per gun tou-me: · -- ó patifório l Sonhaste algu m dia em ver-,o-:!c' governad or do Pará ? Respondi-lhe negativamente, ri ndo-me também. -- Nem e u tão p ouco. Espera-me, para almoçarmos juntos. Vou ali :i casa do Emílio Martins, convidá -lo p ::ira meu d iretor d,::i Fazenda, e volto já. No tempo em que Enéas dirigi:i :-, FOLHA, costum:iva o dr. Correia Men• des levá-lo para almoçar no hotel. E néas, :intes de chegar o anfitr ião, ia ao tele– tone e comunicava-se para ca,sa. --Mamãe, vou almoçar ióra. mas deixe o meu prato feito. E voltando-se para nós, que o ouvíamos, com estranheza, justiiic::iva-se prover bialmen te: -- Do prato à bôca perde-se o bocado. Correia Mendes era um português madurão, achibantado, b:irbinegr o â na– zareno e de muitas !eiras. Vic,a de L isboa, -, 0 ntr::it:ido pelo govêrno Pais de Car– valho, par a exer cer a sua p rofissão de veter inário n o Matadouro. Numa série de ::irtigos que escrevera sôbre O eterno problema do :ib::isteci– mento d e carne verde à capit:11, delxou em maus lençóis o dr. B:irbos:i Rodt'igues. que dirigia a FOLHA, na ausência de Enéas para o Rio. O sr . Pedro Chermont de Miranda, que p resid ia à Comp::in hia P11storil, foi ao e sc1·itório daquele advogado, :;iguerr ido par:i u ma luta provável, a fim dl! cus– pir-lhe na cara, em resposta às enunciações do articulista. B arbosa Rodrigues era. um moço de grande talento. Apegou-se na b u ro- cracia municipal do Rio, onde morreu em imérita obscuridade, de relações inte1·– rompidl\li comlso, - -- - - - 1 1 1
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