Revista da Academia Paraense de Letras 1954

,/ . 84 REVISTA DA ACADEMIA PARAÉNSE DE LETRAS ORAÇÃO AO MEU FILHO de GEORGENOR FRANCO Meu filho: Foste tu, com a inocência e a pureza do teu sorriso amplo e belo, que abriste, de _par en:i, par, todas as janelas e portas do meu sentimento para as mais coraJosas esperanças na grandeza do destino humano. Quando, naquela alta madrugada de 27 de janeiro de 1952, sau– daste o mundo fazendo com que eu experimentasse, em toda a sua plenitude, a maior de todas as emoções humanas, que as palavras, os versos, a música, a pintura, jamais poderão traduzir em todo o seu infinito esplendor, eu compreendi que a vida também me havia com– preendido, colocando sôbre os meus ombros a imensa e_ divi_na respon– sabilidade de guiar teus passos, orientar teus gestos, 1lummar o teu espírito. Desde aquele ·instante, no qual o meu sonho de 33 anos se transformou na mais santa de tôdas as realidades, senti que a Vida é bela e é- digna de ser vivida, quando a enchê-la de poesia e ternura existe o sorriso, a graça, a travessura e os sonhos roseos de uma cri– ança, que é nosf'a, que nasceu do nosso amôr, foi plasmada pela ami– zade, concebida pela pureza límpida e mansa dos pensamentos mais nobres. E agora, quando, entre risonho e zangado, gritas, cor.-1 t odas as forças, o mais belo hino de ternura que meus ouvidos escutam e escu– tará.o sempre - PAPA' - eu sinto, meu filho idolatrado, uma vontade de chorar e de rir, porque somente o pranto e o riso podem traduzir êsse excesso de júbilo que o meu coração de pai experimenta, vendo, lentamente, tu te transformares, cresceres. Alta noite, quando, pé ante pé, com receio que até a minha res– piração perturbe a quietude do teu sono e dos teus sonhos, contemplo teu rosto no berço, no qual repousas de todas as traquinagens diurnas. eu me sinto maior no meu destino e tenho uma vontade louca de sair pelas ruas, desertas e soturnas, para gritar à lua e às estrêlas que dentro de casa, onde sempre passeia e vibra uma saudade incu– ravel de mamãe, está o m ais lindo céu do universo, iluminando de venturas dois corações felizes: o meu e o de tua mãe, desvelada, ca– rinhosa, e cujo cuidado por ti excedeu a todas as minhas perspecti- vas mais exigentes. , Tenho tentado, por diversas vezes, gravar em poemas toda a vida dos teus dias. Mas quando tendo isso fazer, uma fôrça maior me faz jogar ao lado à caneta e ir junto ao teu . b erço, contemplar o teu rostinho sereno - poema silencioso que exalta a minha alma e ume– dece meus olhos. Géo, meu filho amado, em cada dia que se passa, mais eu te amo, mais eu te quero, mais emoções eu experimento, como se tu fosses, não apenas uma criança que encanta, mas a própria celula sen– sitiva d,o meu sêr. Não sonho mais. Não sonho mais por que todos os me us sonhos gi– ram em torno de tí, que és a mais radiosa realidade do mundo. Sim, do mundo, porque o mundo pertence as crianças, são as crianças que enchem de poesia, de dôr e de fe'licidade o universo inteiro. Olho para o teu rosto roseo de cr iança sadia e sinto, quase sem– pre, meu filho, uma tristeza profunda. E' que me lembro de outras crianças de tua idade, que não trazem na face o roseo da saúde e nos l ábios o sorriso largo de quem se alimenta e vive, como devem e têm -d"

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