Revista da Academia Paraense de Letras 1954

Í'tEVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LÉTRAS CONCEITO DA MATERNIDADE de RODRIGUES PINAGÉ Para o inocênte Geo Franco, quando s011ber lêr, Com emora-se no mês de maio· o dia das mães. Repercute de ma– n eir a calor osa a mer ecida man ifes tação. Nos lares reveste-se de afeto e carinho a entronização espiritual desse nome suave e doce em todos os lábios: Mãe ! Nesse grande dia filhos, esposos e pais reverenciam -se aos pés do an jo tutelar, como diante de um sacrário aberto, cujos ídolos são a Vir tude, o Amôr , a Bênção e o Per dão. Uns sentem-se or valhados pela seren idade p iedosa do coração mater no, ao afetuoso aconchego do seio mor no ao refúgio amorável da bênção sal vadora; ou tros, t r an sidos de saudade, a relerem missivas humedecidas de lágrimas provocad as pela angústia d as d istâ ncias; depois, os que mergulham o pensamento no ir r emediável silêncio dos t úmulos, e clamam em vão por um beijo pór um abra~o, por um olhar ape nas, da imagem que alí adorme– cêr a p ara sempre . Todas as coisas que '(ivem e palpitam no mundo t iveram a sua célula máter . A origem do Universo foi ventre e foi mãe. Ger ou a gr andiosa e milen ar família con st ituída e materia lizada pelo consórcio ., dos orbes. Depois veio a multiplicação dos sêres, o desdobramento da vida, a P rocriação. As ciências e as artes m aternizaram-se pela concepção das i déas, posto q ue, Deus é a Idéia Universal. E Dêle nasceu a formp. de t udo, sob a imponderável lei criador a do maravilhoso transe da maternidade. O milagre da gestação, no rochedo bíblico, de cujas entran has a var inha mágica de Moisés fizera brotar a fonte crist alina; o pingo ge– r ando o mar ; a seiva da terr11, subindo pelas :caizes da ár vore para for – mar o ventre das flôr es; a candura e o enlevo da jurití, n a contem – p latividade especifica do ovo. E aquela m ulher que, sublimizada, d ia nte da justiça de Sa lomão, r enunciara o d ireito de maternidade p ar a não ver o filho querido, o rebento de seu amor, ' partido ao meio. E a outra que, soprada pelos ventos da miséria, mas, ungida do mesmo sen – timen to materno, r esigna o esplendor das pedrarias do lovelace, pelo esplendor ·das lágrimas do filho q ue chora. E a bea titude de Maria, glo– rificada pelo p rofundo mistério que trouxera o Menino J esus à luz do dia. Todo esse transcendentalismo integr al e m ilenar circunscreve-se resume-se no holocausto ou na glória da maternidade. · A Natu reza, n a s ua ação produtora e criador a, é a mais justa a mais fecunda e intrinsecam ente atávica, entre tôdas as mães. Em se~ seio largo, insondáve l, abismante, cabem ou tros dois abismos : o b e1·ço onde a vida desabrocha e r esplandece; o túmulo onde a vida se debr u– ça e se paga. E ' o poder inadiá vel, providencial, que eonstroi e que des troi. E' a seara impen etrá vel e te nebrosa onde durante a idade do Mu ndo a Ciência se confunde e tatêia e onde a palavra esba rra, como disse Augusto dos Anjos, "no molambo da lingua paralít ica". No conce ito de maternidade, o homem só teve, até o presente fôr ças, n ão para medir, mas para calcular a grandeza e a santidad~ do amor mater no mesmo porque, raciocinando, abaixo ou acima do m aterialismo, o cér ebro n ão encontra sondas que penetrem os abismos de um olhar de mãe contemplativa ante o fruto de su as entr anhas ·_ Q filho peq uenino! -

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