Revista da Academia Paraense de Letras 1954
!ló nEVISTA DA ACÁDEMXA PARAÊNSE l)E LETRAS E lá se foi, envolvido pela inágua, curvado sob profunda de– solação, rumo de casa. Relatou o O';!orrido ~o Espe:idião, que_de u ra~ão ao dr. Zeferino. Naturalmente mUito serviço, mUita ocupaçao. Amigo da onça, o Esperidião. Numa quinta-feira, ía o Placidiano andando por uma í-ua do co– mercio, quando deu de cara com o deputado Zefe_rino. Oh! Doutor Zeferino, por favor, eu queria mesmo falar com o senhor. .. ~ Vá ao meu escritorio. Vá ao meu escritorio... E, com um " bem até logo, sr. Placidiano", foi-se. Não de u tempo para coisa alguma. Placicliano ficou parado, sem ação. Puxou um cigarro, acendeu e pensou : Que diabo ! Não perco nada em tentar mais uma vez. Depois de subir três dias seguidos ao andar onde estava 1 insta– lado o escritorio do dr. Zeferino Lins, chegou a ocasião de encontrá-lo: - O dr. manda saber quem é o senhor e o que deseja. - Diga-lhe q.ue é o Placidiano. E que só para êle, pessoalmente, eu posso dizer o que desejo.. . - Daí a minutos, o empregado voltou: - O dr. manda dizer que não conhece nenhum Placidiano e mesmo que conhecesse n ão podia atende-lo no momento... · - Está bem. Obrigado . . . E, cabisbaixo, como quem viu a sua última esperança voar rumo ao desconhecido, Placidiano desceu a es- cada do eclificio. , Uma vez na rua, resol veu ir refrescar as idéias à beira do cais, de onde avistou o "Manicoré", o último vapor em que trabalhara. F oi alí sentado em um dos bancos existentes, que começaram a perpassar na sua recordação as principais canas dos últimos tempos de sua vida. Lembrou -se da hora em que, no botequim do Tiburcio, se despe– diu d os companheiros de bordo. Como estava cheio de esp eranças de ilusões ! Seu Pereira, o mestr e, pagou ma is uma rodada de cana: - Desejo-te felicidades, rapaz. Mas, se não te déres bem, pódes voltar que t eu lugar está garantido. · Lembrou-se da con versa d a ba rbearia, da advertência de sua es– pôsa, a pobre Nân a; lembr ou-se d_a campanha política, do mov imento na séde do Partido, éle em Soure falando ao povo e o dr. Zeferino, pedindo-lhe cigarros sempre sorridente: Placidia no pra cá-, Placidiano pra lá. Tudo tão perto e tudo tão longe! E quem sabe mesmo se o dr. 2"eferino não havia se esque– cido d êle, Placid iano? Não era demais experimentar. Assim, uma tardinha foi postar-se defronte da casa de Zeferino, aguardando-o. Não demor ou muito um automovel parou à porta: . - Doutor, doutor, com licença. E' só um momento . . , Zeferino, todo "encadernado" de novo, charuto fumegando, parou, e, como quem não está gost ando, franziu a testa, sem dar a m ão ao Placidiano. • - Doutor , como o senhor prometeu , eu queria vêr se o senhor me con segu ia uma colõcação. Estou desempregado desde aquele tempo da propaganda do P a rtido e. . . · Zeferino não o de ixou terminar a frase : - Olhe, eu n ão te nho empregos p ara dar a ninguém. Não quer o f azer nenhum pedido ao Governo. Quer o ser independente. Você pro– c ure um empr ego, que lhe sirva, e_m . qualq~er r epartição e quando sou– ber m e procure p ara eu apresenta-lo ao diretor.. ,
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0