Revista da Academia Paraense de Letras 1954
REVISTA DA ACADEMIA t>ARAENSE D.E LETRAS 79 :- -:.... l\ ..:,,. ~vr.-~1!!'"'"" .rv-... ..ç ..• - --~-.. "'-::"1'\.-~ ~~•t.-:- ·-1"t'-"· ·~,3.,..~~ Uma noite, êle chegou j unto da pobre da sua mulher. - Prepara minha roupa que amanhã you a Soure, fazendo parte de uma comitiva do Partido. Vão uns dez. Eu fui escolhido pelo dr. Zeferino. O Esperidião sabe que estou desempregado, ent ão me passou cem cruzeiros. Vou te deixar oitenta... Nâna ouviu tudo em silêncio. Foi lá dentro fechar a porta da cozinha e, comovida com o gesto do marido, observou: - Olha, meu filho, não deves ir atraz desses homens. Eu não es– tou nada satisfeita com a vida que estás levando, ultimamente. Eu queria que tu deixasses de trabalhar a bordo, mas não para estares metido nesse negócio de política. Esses homens são ingratos. Deus per– mita que tu não vás te arrepender... Sempre em meio aos maiores do Partido, Placidiano fazia pro• gressos, promovendo _segura campanha, entre seus conhecidos, em toda parte, a favor dos candidatos indicados pelo Diretório Central, entre os quais figurava o dr. Zeferino, para deputado estadual. Em Soure chegou a falar em público. Não .sabe como foi. O que sabe é que quando viu estava no palanque, armado no meio da rua, tendo de um lado o dr. Zeferino e do outro o Esperidião. '.mste lhe soprou: ·- Não se esqueça de dizer que você é' maritimo e que está fa. lando pela classe. Isso é muito importante. . . E não é que Placidiano falou e falou direitinho? Disse que o Par– tido estava forte e que iria vencer. E que uma vez vitorioso o objeti– vo principal de seu programa seria a defesa do povo. Baratear os ge– neros de primeira necessidade, de maneira que o pobre pudesse viver mais folgadam.::nte. E citava: Estão vendo esta caixa de fósforos? Custa· cinquenta centavos. Com a nossa vitória, a caixa de fósforo baixará para trinta centavos. E os outros artigos baixarão na mesq1a proporção. Para isso, é preciso a união de todos os nossos correligioná– rios e que votem, com leal dade, em nossos candidatos, à frente o dr. Ze– ferino Lins, conhecido e brilhante advogado em nossa terra, para deputado estadual. A assistência aplaudiu entusiasticamente as ultimas palavras do orador. - Muito obrigado, Placidiano, pelas suas expressões. :r:f ão tenho dúvida. Nós vamos ganhar e você pode contar comigo.. . • • • - Ora, doutor, eu cumpri o meu dever, apenas. Com essa já era a qu'arta vez que o Placidiano procurava falar com o d eputado dr. Zeferino, em sua residência. Na séde do Partido n ão tinha sido possivel. Era um mundão de gente atrás do hom em. T0dos achavam que estava na hora de fazer pedidos e de serem a~endidos. · - Placidiano, procura-me em casa. Aqui não ·podemos falar . . . Na qua rta vez, entre tanto, que fôra à sua casa, dali yoltar a de– cepcionado, com o coração sangrando. E' que a empregada, depois de v ir s aber.. quem ba tia e de anunciar , v ier a lhe dizer à porta que o doutor n ão estava. . Entretanto, um gar ôto, filho do novo deputado, vindo de dentro da moradia, ao ser ínterrogado, responde u: - Papa i está se vestindo. Ele vai sair.. . P lacidiano teve gânas de esper a r o Zefe rino par a ter uma ex – plicação de homem par a homem. Depois, pe nsou: Quem sabe se êle n ão tem um compromisso sério e por isso n ão poude me atender, agora. Vou deixar passar mais uns dias.
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