Revista da Academia Paraense de Letras 1954

1 .í REVISTA DA ACADEMlA PARAENSE DE LETRAS 9 E quem, d ia1: te ela Virla, vencido pela ma ldade humana. não re– pet irá cheio de fé, estas palavras de Patrocinio: sempre que um homem foi a encarnação de um princ;p.o e soube rnorrer por eie, o sangu,e de seu mar tírio é a auror a de seu triunfo. Pudc,11 cuspil'-1,ie nas faces, arrastá-lo através de vilependios os mais ignominiosos, tor turá-lo com o suplicio mais infamante; o seu nome ressurge através elos séculos, florescendo em bençãos os espinhe il·os da ma ldição de outi-ór a Certo. êle escrevia sôbre Jesus. Em' verdade, escrevia inconscien– temente sôbre si mesmo, num momento de sublimação, em que t ransfe– ria para a Divindade, a sua an gust i-a e talvez o pr óprio sentimento de culpa e de frust ação. Porque Ele também pregou, evangelizou , lutou por um ideal superior ao seu meio e a sua grei, teve como ún ico l aurel e gal ardão su premo, em vez da glória, a irrisão e o esquecimento. Gênio t alvez, nem por isso escapou à cond ição do humano, do pó que no pó r etorna e assim, êle teve o triste destino que Maurice Pollmack assinala ao homem, moucheron qui veut pomper l'eternité, naqueles versos admi– ráveis. En.fin, l'home se decompose, S' emiette et se consume tout; Le vent déterre cette chouse Et l'eparpille on ne sait ou Et le dérisou-e fantôme, L' oubli, vient, s' accr oupit et dort Sur cette mémoire d' atome, Apres la Mort. Mas, e a sua crença no Por vir , na cerl.esa de q •te, como dizia: os que sabem sofrer pelas suas idéas, quando elas são de amôr e de concor– ctia vencem sempre? S im, ele acreditava em t udo isso e no bem e na fraternidade, no Ideal, nil Quiméra, le beau monstre à la demarche louche. Qui por te un ciel mentem· dans ses lar ges yeux d' or, como diria Albert Sama in, em versos vigor osos, P atrocínio acr editava em tudo isso e também na Glória. · A Glória . . . Não sei se já a alcan çastes, vós outros que andais torturados, na e terna â ncia de Perfeição, mas p.e mim vos d irei, que tentado por êsse 1 demônio interior, Satan baudelainano. . . . Prince de l'exil , à qui l'on a fait tort. / Et qui vaincu, toujours se r edresse plus fort. Recordo as palavr as de Rcy de Gou1·mont, escritas tal vez numa hor a de desencanto e desalento : J 'ai vu la Gloil·e chex un marchant de bric--a-brac: Une tête de Mort, en plàtre doré. Talvez seja um paradoxo, tal vez uma simples frase com inte,1ção · literária, essa expressão do escritor francês. Para P atrocinio, por ém, foi mais que uma frase, um lon go sonho do eterno enamor ado do Ideal, a sua fuga do quotidiano e do terra– a-terra, para o dramá tico e o t1·:ígico, o único ambiente propício à expressão livre do seu genio, na manifestação de toda a sua força, como um semi-deus grego, tangido e prêso a um "pathos" inexorável, que só no sacr'f icio e na morte encontra a ,crdadeira sulJli.m 1c;-ão. Por vezes, a ent reviu, nos loi;iges uos seus sonhos ou na própria rudesa dos combates, dir-se-ia mesmo que a alcançou em fugases mo– mentos de sua carreira de agitador, inconoclasta, panfletário, petrolei– ro, demolidor , na tribuna, nos comicios, nàs grandes agit ações popu-

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